Escritório

Nº de referência da peça: 
F1023

Writing Cabinet
Teak, sissoo, ivory (natural and dyed) and gilt copper
Portuguese India State Northern Province, probably Thane (Mumbai)
Late 16th, early 17th century
Dim.: 21,5 x 36,0 x 44,5 cm

Províncias do Norte do Estado Português da Índia, provavelmente Taná, Bombaim (Mumbai)
Finais do século XVI (finais) a XVII (inícios)
Teca, sissó e marfim (tingido e cor natural); ferragens de cobre dourado
Dim.: 21,5 x 36 x 44,5 cm

Parallel piped teak and ivory inlaid sissoo lifting top writing cabinet with teak inner carcass, decorated with pierced gilt copper mounts.
The lifting top hides a larger squarer central compartment encircled by three rectangular bays for storage of writing implements interspersed by an inkwell and a sand blotter at each front corner. On the lower half there is a storage drawer whose front is simulated on the upper half.
The front and side elevations’ decorative scheme of inlaid symmetrical blossoming plants in teak and white and green ivory sits within a double filleted band of white ivory and sissoo four leafed clovers that fill the entire surfaces. The back panel decoration is limited to a double-filleted frame of four leafed clovers.

The more complex and sophisticated decorative scheme of the top panel follows the same matrix but, in this particular case also encircles a central panel depicting a larger blossoming three leaf, in between a pair of facing peacocks framed by an identical double filleted four leafed sissoo and ivory motif band. The inner lid repeats the same central panel but without the peacock depiction or the larger band of flowers, focusing on highlighting the mellow golden tones of the sissoo timbers.

This unusual cabinet belongs to a limited number of furniture pieces, defined by its sophisticated and exotic decoration of contrasting colour inlays and, especially by the characteristic frieze of four petalled flowers, which are not observed in more abundantly produced 17th century Goan models. These are usually decorated in plainer ebony and ivory inlay patterns.

Considering the clear Persian allusions of this type of decoration, most authors suggest a Mughal origin centred on the Gujarati seaports as well as Sindh (further to the North in present day Pakistan)
Recently the art historian Hugo M. Crespo has suggested as a possible origin the Northern Provinces of the Portuguese State of India, in Gujarat as well as in Maharashtra, north of Goa, on the basis that the making of these types of objects for the Portuguese market, from at least the mid 16th century, predates the Mughal conquest of those territories in 1576 and the fall of the Sultanate of Gujarat. Also because the “Persian” nature of the decoration should be accepted as typical of Mughal art as much as of the rich and sophisticated art of the Decan Sultanates, such as those of Ahmagdanar e Bijapur that at the time extended along most of the western coast of the Indian subcontinent from Gujarat to Goa. In fact these Decan Sultanates resulted from the collapsed Bahmani Sultanate, which between 1347 and 1518 was one of the bastions of Persian culture and art in that geographical area.
Of the various 16th century Portuguese Northern Province coastal outposts, several could claim a furniture making tradition. In fact some of the earliest documented references to inlaid furniture made in India for the export market name Thane, in the vicinity of Mumbai, as its place of origin as the 1559 cargo inventory for the Ship Garça that specifies “a brand new writing cabinet with inlaid stand made in Thane”

Arqueta-escritório de tampo de levantar de caixa paralelepipédica, assente em pés de bola achatada, com estrutura de teca e faces exteriores em sissó decorado a embutidos de teca, sissó e marfim à cor natural e tingido de verde e ferragens e pregaria em cobre vazado e dourado. O tampo de levantar dá acesso a um compartimento central rodeado na frente e nas laterais por três escaninhos (para os instrumentos de escrita), com um tinteiro e uma poeira em sissó ladeando cada um o escaninho da frente. A presente arqueta apresenta ainda uma gaveta na metade inferior, com sua fechadura e pegas, mimetizadas na metade superior, que simula outra gaveta, cuja fechadura dá acesso ao interior. A decoração das faces exteriores, em tapete, consiste num campo preenchido por plantas floridas dispostas em simetria, com estreita cercadura decorada por quadrifólios que alternam entre sissó e marfim à cor natural. Mais complexa, a decoração da face exterior do tampo é igualmente em tapete, com um campo central onde pontua uma planta florida ladeada por dois pavões afrontados, uma larga e rica cercadura de plantas floridas dispostas em simetria, entrecortadas por cercaduras estreitas de quadrifólios que alternam entre sissó e marfim à cor natural. A face interior do tampo, difere apenas na cercadura larga (e na ausência dos pavões), aqui deixada sem decoração, enfatizando a singeleza decorativa dos veios do sissó.

Esta arqueta-escritório de tampo de levantar pertence a um raro grupo de peças de mobiliário que se singulariza pela sua decoração de embutidos de cores contrastantes e, em particular, pelo característico friso de florões recortados de quatro pétalas que não se encontram no mais abundante mobiliário produzido seguramente em Goa (em teca com embutidos de ébano e marfim) numa produção de larga escala que conhecemos para toda a centúria de Seiscentos. Dada a natureza 'persa' da decoração floral típica desta produção de mobiliário rico marchetado, a totalidade dos autores que se têm ocupado destas peças e sua invulgar, mas coerente decoração, apontam para uma origem mogol e para uma produção centrada nos portos do Guzarate (e também no Sinde, mais a norte, no actual Paquistão), então sob domínio mogol (Dias 2013, pp. 126, 178-179, 299-301, 379, 390, 392, 404-405, 408).

De acordo com recente investigação de Hugo Miguel Crespo é, no entanto, mais provável tais peças de mobiliário terem sido produzidos nas Províncias do Norte do Estado Português da Índia, tanto no Guzarate como no Maharashtra, a norte de Goa (Crespo 2016, pp. 136-171, cat. no. 15). E isto não apenas porque a produção deste tipo de objectos para o mercado português, desde pelo menos meados de Quinhentos, data de antes da conquista mogol daqueles territórios em 1576, com a queda do Sultanato do Guzarate, mas também porque a natureza 'persa' da decoração deve ser considerada tão típica da arte mogol como da arte sumptuosa e rica produzida nos Sultanatos do Decão, tais como o de Ahmadnagar e Bijapur que então ocupavam toda a costa ocidental do subcontinente indiano desde o Guzarate até Goa. Na verdade, os Sultanatos do Decão resultaram politicamente da desagregação do Sultanato de Bahmani que, entre 1347 e 1518, foi um dos bastiões da cultura e arte persa no subcontinente indiano. Na verdade, das diversas praças costeiras ocupadas pelos portugueses ao longo do século XVI e que constituíram as Províncias do Norte, várias podiam reclamar já uma tradição de fabrico de mobiliário, referindo-se algumas das primeiras notícias documentais a mobiliário marchetado produzido na Índia para o mercado português precisamente à aldeia de Taná, hoje integrada na cidade de Bombaim (Mumbai). Com efeito, na listagem dos objectos embarcados em Goa na nau Garça em 1559, encontramos descrito huum espritorio nouo grande de pee marchetado feyto em Tanaa (Crespo 2014, pp. 71-72).

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Diversos

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.