Escritório (guarda-jóias)

Nº de referência da peça: 
F1275

Writing / Jewellery Box
Southern China; early 17th century
Ebony, exotic ebonised timber and bone; gilt copper hardware
Dim.: 17 x 27.5 x 17 cm
Prov.: Gonçalo Silva, Spain

Sul da China; século XVII (inícios)
Ébano, madeira exótica, e ebanizada, e marfim; ferragens de cobre dourado
Dim.: 17 x 27,5 x 17 cm
Prov.: Gonçalo Silva, Espanha

This small sized and rare rectangular fall front writing cabinet or jewellery box is characterised by its ebony striated edge friezes, turned feet, ebonised exotic timbers, perhaps camphor wood, and carved ebony veneers – the much desirable zǐtán , enriched by gilt copper hardware, from which stands out the double-headed eagle lock escutcheon as well as the side loop and drawers pull handles.
The cabinet outer surfaces decorative compositions are defined by central fields – square shaped to the side panels and rectangular to the remaining elevations, framed by narrow bone friezes and finely carved mitre joined trapezoidal borders.
On the central frontal field a pair of face to face chīlóng, immature and hornless Chinese dragons, amongst a lattice pattern of lingzhi – the sacred immortality mushroom Ganoderma lucidum – and rúyì heads – literally “as it was desired”. It is viable to suggest that the iconographic choice of chīlóng was indeed more adequate for the decorating of an export object, considering their symbolic relevance and meaning in Chinese culture, as well as their association to the emperor and the mandarin elite. On the upper front border section, Japanese damask tree flowers (Prunus mume), symbols of perseverance and purity. On the left and right side elements, flowering Narcissus, known in China as “immortal aquatic flower”, alluding to purity and prosperity, and to the lower section, flying horses, symbolic of speed, strength and perseverance.
With minor variations, the back elevation repeats the frontal iconography while the box top panel portrays, centrally placed, a pair of phoenix amongst peonies. The combination of these two elements reinforces the suspected trousseau nature of this box, as the association between phoenix, king of birds and symbol of virtue, and the peony - fùguìhuā, “wealth and honour flower”, embodies a clear reference to prosperity and justice, both expressions of marital harmony. The border sections are decorated with flying cranes amongst auspicious rúyì shaped clouds. This bird, known in Chinese as hè, stands for social hierarchy and longevity and, in the present decorative context, expresses vows of long-lasting union and eternal marriage.
The box side elevations feature identical decorative compositions. However, while the trapezoid border sections repeat previously described decorative motifs, the central panels feature back facing qílín on rocky grounds and surrounded by auspicious clouds. Portrayed in deer bodies, dragon’s heads and thick bear tales qílín embody benevolence, virtue, longevity, happiness and wisdom, their presence in this setting related to fertility, for their role as delivery vehicles of new-born babies (qílínsòngzi) to happy parents.
The box interior is organised in two overlapping rows of carved ebony veneered drawers, with peonies on the upper tier and jumping carps (lǐ), which by homophony are linked to profit and wealth (lì), power, strength and ability (lì), on the two lower fronts.

This elegant, small sized piece of furniture belongs to a rare extant group of export pieces of identical construction, materials and decorative characteristics, of which three have been recently published. This unusual production, copying contemporary European prototypes, is most certainly connected to commissions by Portuguese officials based in Asia, namely in the southern Chinese coastal regions of Guangdong, Fujian and Zhejiang provinces.

Although the shape and decoration of these typologies is recognisably different from the more sober, and better known Ming furniture admired by Chinese scholars, of which some extant examples are known, they correspond perfectly to what might have been the earliest Chinese made furniture for the European market, which were referred in contemporary documentation.
In addition to Guangzhou, also known as Canton, Guangdong province capital city, one other possible production centre for this furniture is Chaozhou, a city to the east of Guangdong that famed by its high quality cabinet making of intricate carved and pierced decoration. A third alternative would be Ningbo, in neighbouring Zhejiang province, where the Portuguese settled as early as 1522, naming it Liampó.

Este pequeno e raro escritório ou guarda-jóias de tampo de abater, rectangular e com emolduramentos estriados salientes em ébano percorrendo as arestas, elevado sobre pés torneados, é construído em madeira exótica por vezes ebanizada, talvez uma canforeira, e faixeado a ébano entalhado, o muito apreciado zǐtán.
As ferragens de cobre dourado, consistem na fechadura frontal em forma de águia bicéfala, nas gualdras laterais e nos puxadores da frente e das gavetas interiores.
A decoração das faces exteriores consiste num campo central - rectangular na frente, topo e tardoz, e quase quadrado nas ilhargas - com uma cercadura à meia-esquadria (filetes em osso dispostos nas diagonais), resultando em trapézios dispostos de cada lado de cada um dos campos centrais.
A frente é decorada no campo central por um par de chīlóng afrontados, dragões desprovidos de chifres, por entre um reticulado de lingzhi, o sagrado cogumelo da imortalidade (Ganoderma lucidum), com suas formas em cabeça de rúyì (literalmente, “tal como desejado”). É provável que a opção por chīlóng afrontados, dragões imaturos, fosse mais apropriada a um objecto feito para exportação, dada a grande importância simbólica conferida aos dragões na cultura chinesa, associados à elite mandarim e ao imperador. A cercadura incluí, em cima, flores do damasqueiro-do-Japão (Prunus mume), símbolo de perseverança e pureza; nas laterais o narciso, conhecido na China por “flor aquática imortal”, simbólica também de pureza, e prosperidade; e, em baixo, cavalos voadores que simbolizam rapidez, força e perseverança.
Enquanto o tardoz repete (com pequenas alterações), a iconografia da frente, o topo apresenta no campo central um par de fénix (rei de todos os pássaros, símbolos de virtude) por entre peónias lenhosas (fùguìhuā, ou “flor das riquezas e honra”), sublinhando a natureza matrimonial desta peça, enquanto objecto de enxoval, já que a associação de duas fénix com peónias simboliza prosperidade e justiça, expressando uma relação conjugal. A cercadura do topo é decorada por grous voando entre nuvens auspiciosas em forma de rúyì. O grou, conhecido em chinês por hè, simboliza hierarquia social e longevidade e, no contexto da decoração deste guarda-jóias, expressa votos de uma união romântica duradoura, de um casamento eterno.
As ilhargas são decoradas da mesma forma. Enquanto as secções trapezoidais da cercadura repetem a decoração das outras faces, os painéis centrais apresentam cada um seu qílín, de cabeça voltada, assentes em fundo rochoso e rodeados por nuvens auspiciosas. Representados com corpo de veado, cabeça de dragão e espessa cauda de urso, o qílín é símbolo de benevolência, virtude, longevidade, felicidade e sabedoria, a sua representação tornando-se aqui um símbolo de fertilidade, pois acredita-se que o qílín é portador de bebés (qílínsòngzi) a pais felizes.
O interior do guarda-jóias apresenta cinco gavetas dispostas em duas fiadas. Nas frentes das gavetas, também faixeadas a ébano entalhado, vemos peónias na fiada superior, e peixes afrontados saltando das águas nas duas gavetas da fiada inferior; são carpas (lǐ), que simbolizam, por homofonia, lucro e riqueza (lì), poder, força e habilidade (lì).
Esta peça pertence a um raro grupo de mobiliário feito para exportação com semelhantes construção, materiais e repertório decorativo, do qual três foram recentemente publicados.
A sua produção, copiando protótipos europeus, está certamente ligada à encomenda de portugueses estantes na Ásia, nomeadamente nas regiões costeiras do sul como as províncias de Guangdong, Fujian e Zhejiang.
Embora o modelo e decoração destas peças de mobiliário seja um pouco diferente do estilo mais sóbrio do mobiliário Ming hoje melhor conhecido, ao gosto dos letrados chineses e do qual sobrevivem alguns exemplares, correspondem perfeitamente ao que seriam as primeiras peças de mobiliário chinês para exportação para o mercado europeu tal como nos surgem na documentação coeva.
Para além de Guangzhou (Cantão, a capital da província de Guangdong), um provável candidato para o centro de fabrico deste tipo de mobiliário é Chaozhou, uma cidade do leste da província de Guangdong, afamada pela sua marcenaria de qualidade e da qual se destaca a produção de complexas obras vazadas e finamente entalhadas. Uma outra possibilidade é Ningbo, uma cidade na província de Zhejiang, a nordeste, e que era conhecida pelos portugueses como Liampó e onde se estabeleceram logo em 1522.

Hugo Miguel Crespo

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Mobiliário

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