Figura feminina

Nº de referência da peça: 
D1907

Gouache on paper
China (Canton?), 18th century
Dim.: 173,0 x 92,0 cm
Provenance: Viscounts of Maiorca collection, Figueira da Foz

Pintura de guache s/ papel
China (Cantão?), séc. XVIII
Dim.: 173,0 x 92,0 cm
Proveniência: coleção Viscondes de Maiorca.

Gouache painting on paper, centred on a courtesan figure framed by two meandering and flowering bushes simulating an archway or frame.
The clearly recognisable Chinese figure, of oval, kind face and attentive, focused gaze looking enigmatically at two rings, is masterfully painted in a subtle and refined manner.
On the headdress, from which hang three long strands of pearls, stands out a large phoenix, ruyi sceptre shaped hair pin holding a peony. The long pendant earrings are adorned with oval brown coloured stones and small gourds.
The figure wears a full length, rose coloured tunic tied by decorative fastenings, with arms wrapped in draped voluminous sleeves. The wrists are adorned by bracelets, the hands ending in fine and long stylized fingers of exuberant long nails that hold the two interlaced links. The collar in embroidered with clouds and beading –characteristics associated to high social status. A rigid metal necklace suspends a ruyi shaped plaque.
Over the skirt’s front a vertical damask band, on top of a short green petticoat, both tied with a belt from which hang red and blue silk ribbons.
This gouache painting of natural colour pigments, is defined by highlighted outlines filled by polychrome chromatic gradations.
Under iconographic analysis it is possible to recognize multiple Chinese culture specific allegories; the peony, considered the “queen of flowers” is symbolic of spring, eternal beauty, loyalty, prosperity, happiness, love and tenderness. This metaphor is reinforced by the three opening flower buds at the figure’s feet .
The ruyi sceptre stands for good omen and the Phoenix – the empress’s attribute – is associated to fertility and the sun as well as to good fortune, alliance and matrimony. The earrings gourds allude to longevity and mystery, constituting an incantation symbol to keep evil away .
Long nails and nail extensions are emperors and empresses attributes that were copied by courtiers and high dignitaries. An ancestral symbol of wealth and erudition, they highlighted the fact that manual labour belonged to the countless servants, farmers and artisans. This luxury emblem was so prevalent that nail protectors or metal sheaths decorated with auspicious symbols, often works of art in themselves, were created just to protect them .
The figure holds two interlinked rings that she tries to separate, in an allusion to a deeply rooted Chinese puzzle whose origin is in the philosopher Hui Shi’s (ca.380-305 a.C.) statement: “All inseparable rings can be separated” . Such is the significance of such rings that Emperor Kangxi (r.1662-1722) was gifted nine interlinked rings for his sixtieth anniversary .
In chapter VII of Cao Xuequin’s mid-18th century best-seller “Dream of the Red Chamber”, also known as “The Story of the Stone”, there is a reference to such puzzle involving the two main characters, Baoyu and Daiyu, who try to undo these links .
Cao Xuequin, considered one of the great Chinese novelists, tells the story of a love triangle, involving the main character, the young Jia Baoyu (precious jade), the clan’s heir, that falls in love with his orphaned cousin Lin Daiyu (black jade), even though he is destined to marry another cousin, Xue Baochai. The outcome is tragic as Daiyu dies on the night of his cousin’s wedding to Baochai.
It is indeed possible that the artist is making an allusion to that chapter in the book, depicting Daiyu’s attempt at unravelling the puzzle, in a reference to Hui Shi´s saying that could have changed the story’s end.

--

Pintura sobre papel com organização vertical centrada em figura de cortesã ladeada por duas composições vegetalistas de troncos serpenteados, floridos, simulando um arco ou moldura.
A figura, que se reconhece como sendo de origem chinesa, tem um rosto ovalado, doce, com olhar atento e concentrado. De grande beleza e magistralmente pintada com grande delicadeza de traço, olha enigmaticamente para duas argolas.
No toucado sobressai alfinete com configuração de fénix terminando em ceptro de ruyi, que fixa uma peónia. Usa brincos de pendentes compostos por pedra acastanhada oval e cabaça. No lado direito caem três fiadas de pérolas.
Traja túnica rosa longa, até aos pés, abotoada com alamares; braços estão cobertos com mangas volumosas e drapeadas. Os punhos estão adornados com argolas e as mãos terminam com finos dedos estilizados e exuberantes unhas compridas, que seguram os dois elos, entrelaçados.
A gola é bordada com nuvens e perlado - características normalmente associadas a pessoas de alta estirpe social. Sobre os ombros, colar de metal rígido com placa em forma de ruyi suspensa.
Por cima da saia, destaca-se faixa frontal adamascada sobre saiote verde curto, ambos presos com um cinto, onde pendem fitas de seda azul e vermelho.
Esta pintura a guache, à base de pigmentos naturais, apresenta desenho de contorno destacado, colorido em gradações cromáticas.
Na análise iconográfica reconhecemos múltiplas alegorias, específicas da cultura chinesa. A peónia, considerada a “rainha das flores” simboliza a primavera, a eterna beleza, a lealdade, a prosperidade, a felicidade, o amor e carinho. Esta metáfora é reforçada por uma planta com três botões de flor a seus pés .
O ceptro de ruyi é sinal de bom augúrio e, a fénix -atributo da imperatriz – simboliza não só a fertilidade e o sol, mas também o bom augúrio, a aliança e matrimónio.
Os brincos terminados em cabaça indicam longevidade, mistério, e constituem uma marca encantatória que afasta o mal .
As unhas compridas e as extensões nas unhas, são atributo dos imperadores e imperatrizes, imitados por aristocratas e funcionários de alta posição social. Símbolo ancestral de riqueza e erudição indicam que o trabalho manual cabia aos inúmeros subalternos, como criados, camponeses e artesãos, que mantinham às suas ordens. Este luxo era de tal maneira assumido que se criaram protectores ou “bainhas” de metal, verdadeiras obras de arte, decorados com símbolos auspiciosos, para as proteger .
A dama segura nas mãos duas argolas entrelaçadas, que tenta separar, alusão a um quebra-cabeças profundamente enraizado na cultura chinesa, cuja origem está na afirmação do filósofo Hui Shi (c. 380-305 a. C.): “ Todas as Argolas inseparáveis podem ser separadas” . A importância destes anéis é tal que o imperador Kangxi (r.1662-1722) recebeu nove argolas interligadas, no seu sexagésimo aniversário .
No capítulo VII do best -seller chinês, “O Sonho da Camara Vermelha”, também denominado “História da Pedra”, escrito por Cao Xuequin em meados do seculo XVIII, existe uma referência a este puzzle, envolvendo as duas personagens principais, Baoyu e Daiyu, que tentava separar estes anéis .
O autor é considerado um dos maiores romancistas chineses e o tema gira em torno de um triângulo amoroso, entre a personagem principal, o jovem Jia Baoyu (jade precioso), herdeiro do clã, que se apaixona pela sua prima órfã Lin Daiyu, (Jade negro) mas está predestinado a casar-se com outra prima, Xue Baochai. O desfecho da história é trágico, já que Daiyu morre na noite do casamento do primo com Baochai.
É possível que o pintor quisesse fazer alusão a este trecho do romance e tivesse pintado Daiyu tentando desfazer o quebra-cabeças, numa alusão ao ditado de Hui Shi . Se assim tivesse sido, o final da história seria outro.

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Diversos

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.