Pichel

Nº de referência da peça: 
C628

Faiança portuguesa
Lisboa, 1635-1650
Alt.: 20,0 cm
Prov.: coleção M.P., Lisboa
Expo.: ‘A Influência Oriental na Cerâmica Portuguesa do Século XVII’, Lisboa, 1994, p. 110
Pub.: ‘Lisboa na Origem da Chinoiserie’, Lisbon, 2018, p. 146

Pitcher
Portuguese faience
Portugal, c. 1635-1650
H.: 20,0 cm
Prov.: Collection M.P., Lisbon
Exhib.: ‘A Influência Oriental na Cerâmica Portuguesa do Século XVII’, Lisbon, 1994, p. 110
Pub.: ‘Lisboa na Origem da Chinoiserie’, Lisbon, 2018, p. 146

Rare 17th century faience wine pitcher, decorated in a bright cobalt-blue pigment applied on tin-white enamel. The long cylindrical neck and semi-circular handle, raising from the elegantly shaped ovoid body and well proportionate conical base.
On the front, framed by an oval cartouche, a nude female figure – an allegory to the roman deity Fortuna – with hair blowing in the wind, holds a large swollen sail. The figure is depicted standing on a symmetrically positioned, open winged globe that reinforces the compositing sense of movement: the swollen sail, the wings and the hair.
Contrasting with this unequivocally European image, a carefully balanced and near symmetrical composition of clear oriental grammar, unfurls from under the ear-like handle, framing the frontal cartouche; a camellia bush of stylised symmetric branches with two large and exuberant flowers. The cylindrical neck is segmented into three sections; a wider section filled by floral motifs, bordered by two small Chinese columns. The circular, conical foot adorned with a frieze of stylised juxtaposed pearls.
This pitcher is an excellent example of 17th century symbiosis between Chinese and European cultures. In the first instance the evocation of the cobalt-blue on tin-white enamel allied to the imitation of the vegetal elements and their Ming porcelain distribution. In the second the evident influence of Italian majolica, particularly in the selection of the central image, the Allegory of Fortuna as the deity associated to good luck, an image widely replicated in 16th century engravings, in this instance holding a sail entirely dependent on the random whim of the wind blow.
Portuguese made wine pitchers were commissioned in large numbers by the Hanseatic League cities, normally receiving a pewter lid on arrival. Accordingly they were common, everyday objects in Northern Europe, their abundance resulting in a wrong, and until recently persistent, identification as Hamburg Faience.
Their shape follows a favoured contemporary Germanic typology, fact that forced the Portuguese potters to explore new decorative solutions in the absence of specific known models. The end result is the successful conciliation between this typically northern model and the emerging taste for the exotic, by then popular in Portugal.

Raro jarro denominado “Pichel”, utilizado para tirar o vinho de vasilhas e tonéis, da primeira metade do século XVII, decorado a azul-cobalto sobre esmalte estanífero.
A peça, de corpo ovoide, prolonga-se por um colo alto cilíndrico, assenta sobre base cónica e termina com uma pega semicircular.
Na frente do bojo, em reserva ovalada, destaca-se uma figura feminina desnuda, de cabelos ao vento - uma alegoria à Fortuna, divindade romana – a segurar uma vela enfunada que pela ação do vento a circunscreve; encontra-se de pé, sobre um globo alado com as asas abertas, simetricamente colocadas, reforçando todo o movimento da composição: vela, asas e cabelos ao vento.
O restante corpo do jarro está preenchido por decoração vegetalista, com ponto de partida no tardoz, sob a pega, ao sabor oriental: uma cameleira com dois ramos simétricos, estilizados, de onde desabrocham duas exuberantes flores. A composição desenvolve-se num grande equilíbrio ao redor da pega em forma de orelha.
O colo é cilíndrico, dividido em 3 reservas: a central é decorada com motivo vegetalista e está ladeada por duas com colunelos chineses. Assenta numa base circular com friso de pétalas justapostas e estilizadas.
Esta peça é um belo exemplo de simbiose entre a cultura chinesa e a europeia. No primeiro caso, evoca-se a decoração a azul-cobalto sobre o branco de esmalte estanífero, aliada ao mimetismo dos elementos vegetalistas e sua distribuição, derivados da porcelana Ming. No segundo, distingue-se a inspiração europeia na Majólica italiana, sobretudo na representação da figura principal, com profusa reprodução em gravuras do seculo XVI, adaptada à alegoria da “Fortuna” enquanto divindade e cujos dons são associados à sorte, neste caso com uma vela agitada sujeita aos caprichos do acaso que o soprar do vento guia.
Esta imagem é também a representação heráldica da cidade alemã de Glückstadt, desde a sua fundação em 1617. Situada sobre o rio Elba, Glückstadt fazia parte da Liga Hanseática, a par de varias cidades do Mar do Norte e do Mar Báltico e terá sido criada pelo rei Christian IV como base naval e mercantil, para rivalizar com o porto de Hamburgo.
Os picheis de louça de produção portuguesa, manufacturados em larga escala para as cidades do Norte da Alemanha - local onde era normalmente aposta uma tampa de estanho - seguem a tipologia dos jarros germânicos da época. A ausência de modelos decorativos específicos obrigou os artesãos portugueses a encontrarem soluções decorativas próprias, tendo resultado numa peça hibrida, que concilia a morfologia nórdica ao gosto pelo exotismo que despertava nesta época, entre nós.
Devido à sua produção resultar, quase exclusivamente, de encomendas para esta região, estes jarros têm sido erroneamente designados por pichéis de faiança de Hamburgo, encontrando-se em alguns museus nórdicos sob esta designação.

Pichel com com idêntica representação heráldica e datada de 1640, figurou na exposição Lissabon – Hamburg, no Kunst und Gewerbe Museum , Hamburgo, fazendo parte da coleção desta instituição (Inv. nº 1879.322).

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