Toni Malau
Toni Malau - Saint Anthony of Congo
Kingdom of Kongo,1684-1706
Bronze | H 12 cm
Prov.: Private collection; bought in an auction, Oporto
Toni Malau
Santo António do Congo
Bronze
Antigo Reino do Congo,1684-1706
Alt.: 12,0 cm
Proveniência: Coleção privada; adquirida em leilão, Porto
F1363
Rare 18th century bronze sculpture depicting Saint Anthony of Kongo, also known as Toni Malay, Dontoni Malau or “Anthony of Good Fortune” . It is inspired by a European prototype of Saint Anthony of Padova or of Lisbon (1195-1231) , introduced into the Congo in the late 15th century by Portuguese missionaries .
The integration of this iconography in the art and culture of the various Congolese peoples, relates to Portuguese popular beliefs and established practices of devotion to Saint Anthony. This Saint performed a major role within the Order of Friars Minor, related to the Capuchins, a congregation that exerted a determinant role in the Christianising of the Kingdom of Kongo.
The figure, a pendant with a suspension hoop to the back, is three-dimensional, depicted in its entirety, and characterized by indigenous physiognomic characteristics. Of some formal geometry, it is cast in a metal alloy with reasonable accuracy of details. The skull is ovoid, macrocephalus and with correctly defined facial appearance of clear African ethnic origin - broad nose, almond shaped eyes suggesting exorbitism, protruding eyelids, full lips, baldness and small, lightly outlined ears.
In affectionate attitude, Saint Anthony embraces The Child Jesus with the left arm, while holding the Latin Cross with the right. The child features identical facial characteristics, His flattened body as if part of the main figure, and extends the left arm as if holding onto the Saint, that is attired in the Franciscan habit of double collared long tunic tied by a double cord, from which hangs the rosary. The absence of the hood and of the three knotted cord – representing the three perpetual vows of the Order – Obedience, Poverty and Sanctity – may be related to some naivety by the maker or, more likely, to Kimpa Vita’s purpose of abolishing these symbols, in her fight against the Capuchin friars.
In the late 17th century, Saint Anthony was claimed as the symbol of a religious reform movement from the Former Kingdom of Congo (1684 – 1706), known as ‘Antonianism’ and led by the prophetess Beatriz Kimpa Vita. Originally from Mbanza Congo, the kingdom’s capital city, this priestess, who had previously belonged to the cult of Marinda (nganda marinda), and simultaneously educated in the Catholic faith, proclaimed to have received from God, through the intermediation of Saint Anthony who had taken possession of her body, the mission of curing the suffering of her people.
Through this movement, this priestess attempted at intervening in the Kingdom of Kongo’s destiny, by then undergoing a civil war said to have been caused by the domination of the white missionaries, with the purpose of reuniting it . According to Kimpa Vita those missionaries represented an impediment to the kingdom and the crown restoration that opposed the various local factions.
Taking ownership of the imported Catholic Saints and transferring them to the traditional logic of the Congolese cult of ancestors, Kimpa Vita identified Jesus, the Virgin Mary, Saint Anthony and others, as Congolese ancestors, explaining that the Kingdom was the true Holy Land, and that the founding figures of Christianity had been born in there. Without as much as challenging the Pope’s authority, she rejected the local clergy for its distancing from the spiritual needs of the Congolese people, and converted “Toni Malau”, the Congolese Saint Anthony, in the mystic axis of this ample movement, that searched simultaneously for redemption in life and for the radical Africanisation of Christ. The cult imposed by this prophetess reaches syncretic processes that obey to rites of mixed cultural codes - catholic concepts that were altered in a very original manner, implying a new reading of the Christian message – symbolically featured in these small sculptures.
The hoop enabled the suspending of these figures close to the body of the faithful, for increased protection and for its therapeutic properties. They were equally relevant in recovering lost or stolen objects, protecting boats and passengers against shipwrecking and in pregnancy, against complicated childbirths.
As such, Toni Malau was converted into a Saint-amulet, a magical-religious object that could be considered a minkisi sculpture. The present figure’s surface is worn and polished due to vigorous rubbing on the body’s infirm areas, hoping for a cure to the illness. In a syncretic current, this movement allowed for a new conception of Catholicism: known as ‘Congolese’, it corresponded to a resignification and Africanisation phenomenon of that doctrine.
Congolese sculpture bequeathed these unassuming images of Saint Anthony to posterity. Produced in wood, ivory, brass or bronze these precious objects can now be seen in various international museum collections, such as the Musée Royal de l’Afrique Centrale, Tervuren (Inv. nr.1955.9.23), or the Metropolitan Museum of Art, New York (Inv. nr.1999.295.1), amongst others. Outstanding treasures from this Antonian movement, are undoubtedly the small sculpture herein described, as well as another Toni Malau figure now at the Saint Anthony Museum, in Lisbon (Inv. nr.MLSA.ESC.0234), but formerly also in our collection.
Bibliography:
- Cecile Fromont, The Art of Conversion. Christian Visual Culture in the Kingdom of Kongo, Chapel Hill, N.C. University of North Carolina Press, 2014.
- SANTOS, Eduardo, Religiões de Angola, Lisboa, Junta de Investigações de Angola, 1969.
— SOUZA, Marina de Mello e, “Evangelização e Poder na Região do Congo e Angola: A Incorporação dos Crucifixos por Alguns Chefes Centro Africanos, Séculos XVI e XVII”, in Actas do Congresso Internacional Espaço Atlântico do Antigo Regime, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, U.N.L.
— FRANCO, Anísio, “Santo António (Toni Malau)” in Masterpieces – Pégadas dos Portugueses no Mundo, Porto, ARPAB, 2010.
— THORNTON, John K., “The Development of an African Catholic Church in the Kingdom of Kongo, 1491 – 1750”, in Journal of African History, n.º 25, 1984.
— THORNTON, John K., The Kongolese Saint Anthony – Dona Beatriz Kimpa Vita and the Antonian Movement, 1684 – 1706, USA, Cambridge University Press, 1998.
— VAINFAS, Ronaldo e MELLO e SOUZA, Marina de “Catolização e Poder no Tempo do Tráfico: O Reino do Congo da Conversão Coroada ao Movimento Antoniano, Séculos XV – XVIII”, in Tempo, Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, v. 3, n.º 6, dez/1998.
— WYATT, MacGAFFEY, Religion and Society in Central Africa, Chicago, The University of Chicago Press, 1986.
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Rara escultura em bronze do do século XVIII, representando Santo António do Antigo Reino do Congo, também conhecido por Toni Malau, Dontoni Malau ou “António de Boa Fortuna” . É inspirada num protótipo europeu de Santo António de Pádua ou de Lisboa (1195-1231) , introduzido no Congo pelos missionários portugueses nos finais do século XV .
A integração desta imagem na arte e cultura dos diferentes povos congoleses prende-se com as crenças populares portuguesas e a devoção a ele consagrada. Este Santo desempenha um papel maior na Ordem dos frades Menores, com os quais estavam relacionados os Capuchinhos, congregação que exerceu um papel preponderante na cristianização do Antigo Reino do Congo.
A estatueta, em pendente com gancho no reverso, apresenta-se de vulto perfeito, com características imagéticas da região. Com alguma geometria de formas, a imagem é fundida numa liga de metal, com certo rigor nos detalhes. O crânio é ovoide, macrocéfalo e o facies bem definido, visivelmente de etnia africana: nariz largo, olhos amendoados detonando uma certa exoftalmia, pálpebras salientes, boca de lábios proeminentes, calote calva e orelhas pequenas levemente esboçadas.
Numa atitude afetiva, Santo António envolve o Menino Jesus com o braço esquerdo e, com o direito, segura a cruz latina. O Menino apresenta as mesmas características faciais, espalmado como se fizesse parte do seu corpo e com o braço esquerdo estendido, parecendo segurar-se nas vestes do Franciscano.
Veste hábito franciscano, de túnica longa, com dupla gola, cingido com cinto de laçada dupla, de onde pende apenas o rosário. A ausência do capuz e do cordão com os três nós – que representam os votos perpétuos desta Ordem (obediência, pobreza e santidade) - pode estar relacionado com uma certa ingenuidade do artesão ou, o mais provável, com o propósito de Kimpa Vita em abolir estes símbolos na sua luta continua contra os frades capuchinhos.
Nos finais do seculo XVII Santo António foi reivindicado como emblema de um movimento de reforma religiosa do Antigo Reino do Congo (1684 – 1706) conhecido por “Antonianismo” e liderado pela profetiza Beatriz Kimpa Vita. Natural de Mbanza Congo (a capital do Reino) esta sacerdotisa que tinha pertencido ao culto de Marinda (nganda marinda) e simultaneamente, educada na religião católica, apregoava ter recebido de Deus, por intermédio de Santo António, que tinha tomado posse do seu corpo, a missão de curar o sofrimento deste povo.
Através deste movimento, a sacerdotisa quis intervir no destino do Reino do Congo que se encontrava numa guerra civil, com o propósito de reunificar o reino , que dizia ter sido causada pela dominação dos missionários brancos. Segundo Kimpa Vita eles representavam um obstáculo à restauração do reino e do trono que opunha os diferentes chefes locais.
Apropriando-se dos santos católicos importados e transferindo-os para a logica tradicional do culto congolês dos ancestrais, identificou Jesus, Maria, Santo António, entre outros, como antepassados congoleses, explicando que este reino era a verdadeira Terra Santa e que as figuras fundadoras do cristianismo nele tinham nascido.
Sem contestar a autoridade do Papa, Dona Beatriz repudiava o clero local por se encontrar muito distante das necessidades espirituais do povo congolês. Converteu “Tony Malau”, o Santo António congolês, no eixo místico deste amplo movimento, que procurava, simultaneamente, a redenção em vida e a africanização radical de Cristo.
O culto imposto por esta profetisa atinge processos sincréticos que obedecem a ritos, com códigos culturais miscigenados - conceitos católicos foram alterados de uma forma bastante original, implicando uma nova leitura da mensagem cristã – representados simbolicamente nestas pequenas esculturas.
O gancho de suspensão permitia que a mesma fosse pendurada junto ao corpo dos devotos, para maior proteção e pelas suas propriedades terapêuticas.
Eram igualmente utilizadas para recuperar objectos perdidos ou roubados, proteger as embarcações e os passageiros dos naufrágios e ainda as gravidas, das complicações no parto.
Assim, a figura converte-se em santo-amuleto, objecto mágico–religioso, podendo ser considerado uma escultura minkisi . A imagem está gasta e polida, resultado da fricção vigorosa nas áreas enfermas do corpo, esperando a cura para os males.
Numa corrente sincrética, este movimento permitiu estabelecer uma nova concepção do catolicismo: denominado “congolês”, fenómeno de “ressignificação” e africanização desta doutrina.
A escultura congolesa legou à posteridade singelas imagens de Santo António, comumente executadas em madeira, marfim, latão ou bronze - Inv. n.º 1955.9.23, Musée Royal de l’Afrique Centrale, Tervuren; Inv. nº. 1999.295.1, Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque; entre outras.
Impõem-se como tesouros notáveis deste movimento Antoniano, esta escultura que apresentamos, assim como uma imagem de “Toni Malau” que se encontra hoje no Museu de Santo António em Lisboa com o inv. n.º MLSA.ESC.0234 e que fez parte do nosso acervo.
Bibliografia:
- Cecile Fromont, The Art of Conversion. Christian Visual Culture in the Kingdom of Kongo, Chapel Hill, N.C. University of North Carolina Press, 2014.
- SANTOS, Eduardo, Religiões de Angola, Lisboa, Junta de Investigações de Angola, 1969.
— SOUZA, Marina de Mello e, “Evangelização e Poder na Região do Congo e Angola: A Incorporação dos Crucifixos por Alguns Chefes Centro Africanos, Séculos XVI e XVII”, in Actas do Congresso Internacional Espaço Atlântico do Antigo Regime, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, U.N.L.
— FRANCO, Anísio, “Santo António (Toni Malau)” in Masterpieces – Pégadas dos Portugueses no Mundo, Porto, ARPAB, 2010.
— THORNTON, John K., “The Development of Na African Catholic Church in the Kingdom of Kongo, 1491 – 1750”, in Journal of African History, n.º 25, 1984.
— THORNTON, John K., The Kongolese Saint Anthony – Dona Beatriz Kimpa Vita and the Antonian Movement, 1684 – 1706, USA, Cambridge University Press, 1998.
— VAINFAS, Ronaldo e MELLO e SOUZA, Marina de “Catolização e Poder no Tempo do Tráfico: O Reino do Congo da Conversão Coroada ao Movimento Antoniano, Séculos XV – XVIII”, in Tempo, Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, v. 3, n.º 6, dez/1998.
— WYATT, MacGAFFEY, Religion and Society in Central Africa, Chicago, The University of Chicago Press, 1986.
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