Cristo Crucificado Cingalo-português , Ceilão (atual Sri Lanka), prov. Colombo, c. 1580 – 1620
marfim
5 x 13 x 12,5 cm
F1411
Provenance
Miguel Baganha
De entre os marfins religiosos entalhados no Ceilão sob domínio português, os mais abundantes estão relacionados com a Paixão de Cristo, com figuras do Cristo Crucificado, de diferentes dimensões e qualidade do entalhe, totalizando centenas de exemplares. Estes, como refere Jan Huygen van Linschoten (1563-1611) no seu Itinerário (1596), eram muito apreciados: “Ao meu amo, o arcebispo [de Goa], foi oferecido um crucifixo de marfim com um côvado de comprimento [± 69 cm], feito por um habitante da ilha de Ceilão, elaborado de uma forma tão engenhosa e primorosa que o cabelo, a barba e o rosto pareciam tão naturais como os de uma pessoa viva, e em tudo tão bem lavrado e proporcionado de membros que não se poderia igualar em toda a Europa”. Tal como no magnífico crucifixo de grandes dimensões do arcebispo, esta estatueta miniatural do Cristo Crucificado espelha a mesma obsessão pela perfeição por parte do mestre entalhador, com idêntica e meticulosa precisão anatómica e a mais alta qualidade no entalhe e modelação. A fina representação da pele sobre o peito magro e das costelas de Cristo, incluindo pormenores como o umbigo e os braços delgados e musculados de veias salientes, é surpreendente. Extraordinária é também a disposição dos músculos e tendões em tensão nas costas do Cristo expirante, as mãos rígidas e os delicados novelos de cabelo solto caindo da cabeça prostrada. O mesmo naturalismo encontramos na representação do cendal ou perizonium de Cristo (ou o grego, perizoma), com pregas e dobras entalhadas na perfeição e reminiscentes da representação local do vestuário sem costuras, drapeado e de múltiplas pregas. Furos nas mãos e pés sugerem que a escultura tenha estado pregada numa pequena cruz de madeira e, a sua escala miniatural indica tratar-se de objecto portátil para devoção, e não de exibição e veneração num altar privado. Outra possibilidade, é a utilização enquanto elemento central de composições entalhadas em marfim representando o Calvário, conhecendo-se alguns exemplares mais ou menos completos do Ceilão sob domínio luso. Esculturas cingalesas em marfim do Cristo Crucificado sobrevivem em número considerável em colecções públicas e privadas portuguesas. Por vezes enriquecem cruzes de madeira posteriores ou incorporam composições mais complexas de múltiplas figuras representando o Calvário. No entanto, imagens desta dimensão e, acima de tudo, desta qualidade, são extremamente raras.
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