Nossa Senhora com Menino Sino-portuguesa , Dinastia Ming, final de c. 1600
marfim
12 cm
F1077
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Rara escultura sino-portuguesa em marfim, dos finais do século XVI, princípios de XVII, durante a dinastia Ming, representando Nossa Senhora com o Menino Jesus. A cabeça da Virgem é calva na região frontal, o rosto redondo, de expressividade mística e serena, com traços fisionómicos marcadamente “achinesados”. Os olhos, semi-abertos, são oblongos e amendoados; o nariz é largo evidenciando alguns desgastes, com narinas bem definidas; a boca está entreaberta, com lábios pequenos e perfeitamente delimitados. Está sentada ao modo oriental, com os volumes do trajo adoçados, de grandes panos lisos e pregas vincadas como rincões. Enverga túnica simples de decote em V, realçando as pernas cruzadas, com tecido de pregueado profundo e curvado, até aos pés. Está envolta num manto longo que lhe cobre a cabeça, com orifícios laterais de onde sobressaem as orelhas, fortemente estilizadas, com lóbulos búdicos alongados. A Virgem tem o Menino ao colo, sentado no braço direito e coberto pelo manto pregueado, envolvendo-o com o braço esquerdo e a mão estilizada e alongada, de dedos sínicos anormalmente compridos. O Menino é calvo, com orelhas búdicas e fisionomia idêntica à Virgem Mãe. Apresenta sinais evidentes de desgaste na face. Segura uma flor na mão direita, ao mesmo tempo que puxa o manto, que cobre o braço esquerdo da Virgem.O tema da Deusa-Mãe com a criança ao colo é particularmente importante no Sul da China, pode estar relacionado com a ligação de culto entre Guanyin – manifestação feminina de bodhisattva Avalokitesvara- e Mazu - divindade taoísta protectora dos pescadores e das suas mulheres, venerada como reencarnação da deusa Guanyin na Terra; poderá também estar ligado ao culto de Xi Wangmu, - deusa chinesa conotada como a Rainha-Mãe do Ocidente, popular durante a dinastia Tang; ou ainda ao culto budista que se desenvolveu na China a partir do século VII de Kishimojin, deusa protectora de crianças.Os missionários reconhecem nestes protótipos de fertilidade, maternidade e protecção, paralelismo com o significado da Virgem Nossa Senhora. Esta evidência é notada quando os Jesuítas, Michelle Ruggieri e Matteo Ricci, escrevem ao Geral da Companhia, Claudio Aquaviva, solicitando o envio de imagens de Nossa Senhora e de Cristo Salvador do Mundo, dada a grande curiosidade e devoção de alguns magistrados chineses a uma imagem da Virgem com o Menino que estava num oratório na Casa dos Jesuítas, na Missão da China. A peça em estudo é um exemplo importante e raro de protótipo cristão, inspirado nessa simbiose artística, que liga as deusas chinesas com a Virgem Maria. Dado que um dos principais centros quinhentistas de produção de escultura em marfim, muitas vezes interpretadas a partir de gravuras, se localizava no Sul da China, na província de Fujian, atribuímos a origem desta Virgem ao mesmo local; até porque a sua iconografia indica claramente a autoria de um artista chinês nativo. Existe um exemplar idêntico na colecção do Museu Estatal Hermitage, de S. Petesburgo (Inv. LN-939).
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