Escritório Indo-português - Sadeli , Sinde (atual Paquistão), c. 1580-1630
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Este imponente escritório de tampo de abater foi produzido com toda a probabilidade no Sinde, no actual Paquistão, entre os finais do século XVI e os inícios da seguinte centúria.[1]
De estrutura em teca (Tectona grandis), é faixeado a ébano (Diospyros ebenum) e ricamente decorado com embutidos de marfim e micro-mosaico (sadeli). As ferragens em cobre dourado incluem duas gualdras, puxadores das gavetas interiores em forma de máscaras humanas, fechos de mola nos cantos superiores do tampo de abater e espelho da fechadura da frente em forma de águia bicéfala ou gandabherunda - ave mitológica hindu imbuída de força mágica utilizada para afastar o mal e proteger as preciosidades aí contidas.
A decoração das faces exteriores é em tapete, com cartelas centrais e cercadura interior polilobadas (preenchidas por elementos vegetalistas), e orla de rosetas de oito pétalas com sadeli no interior. A face interior da tampa de abater apresenta cercadura mais complexa, alternando as rosetas com enrolamentos, sendo o campo central dividido em três zonas: dois medalhões circulares com estrelas de seis pontas integralmente em sadeli, flanqueando um losango ao meio também preenchido com o mesmo tipo de decoração, tudo sobre fundo de enrolamentos vegetalistas. No interior, o móvel tem doze gavetas simulando dezasseis, todas com a mesma rica decoração nas frentes, dispostas em quatro fiadas.
Replicando protótipo europeu, este grande armário destinava-se a uma família aristocrática abastada, sendo reminiscente dos opulentos armários coevos de ébano, marchetaria ou pietre dure (pedras duras) produzidos nas cortes mais ricas da Europa. Conjugando tipologias de mobiliário ocidental com complexas técnicas decorativas locais e materiais exóticos dispendiosos, este armário exprime na perfeição o gosto requintado da clientela portuguesa que o encomendou.
Com base nas tipologias mais frequentes, materiais preferidos e técnicas decorativas de origem iraniana, como o sadeli de demorada e fina execução, esta produção elegante e mais sóbria, quando comparada com o mobiliário guzarate para exportação, foi recentemente atribuída a Thatta no Sinde (actual Paquistão).[2]
Escritórios de tão generosas dimensões são muito raros, sendo mais frequentes desta produção os contadores de mesa, cada gaveta com sua fechadura própria. Refira-se um escritório igualmente produzido no Sinde, também de grande dimensão (34,0 x 68,0 x 36,5 cm) e semelhantes proporções existe em colecção particular.[3] Menos elegante na sua decoração de completo horror vacui, é de estrutura em teca embora revestido a sissó, e não ao valioso ébano usado no nosso exemplar.
HUGO MIGUEL CRESPO
[1] Para um escritório da mesma produção, da colecção do Victoria and Albert Museum, Londres (inv. 317-1866), veja-se Amin Jaffer, Luxury Goods from India. The Art of the Cabinet-Maker, Londres, V&A Publications, 2002, p. 19.
[2] Hugo Miguel Crespo, A Índia em Portugal. Um Tempo de Confluências Artísticas (cat.), Porto, Bluebook, 2021, pp. 76-88.
[3] Pedro Dias, Mobiliário Indo-Português, Moreira de Cónegos, Imaginalis, 2013, pp. 356-357.
Provenance
Col. Sylvie Lhermite-King, Reino Unido e PAB, Paris.Receba as novidades!
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