Prato de Aparato, 1660-1680
faiança portuguesa
6,5 x 38,0 x 38,0 cm
C651
Publicações
ROQUE, Mário, Lisboa na Origem da Chinoiserie, Lisboa: São Roque, 2018 (pp. 170-170)Faiança Portuguesa o ateneu Comercial do Porto, Porto, 1997 (cat. p. 35)
Excepcional prato de aparato com aba larga e levantada, em faiança portuguesa da segunda metade do século XVII. Pintado a azul-cobalto e a negro de manganês, com abundante decoração de “desenho miúdo”, inspira-se em motivos e ornatos da porcelana chinesa de transição Ming–Qing. Menciona-se a grande relevância artística desta peça, onde se destaca a qualidade da pasta e a finura do esmalte estanífero, bem como a mestria da pintura a azul-cobalto. O centro, delimitado por filete polilobado, está integralmente preenchido por complexa paisagem chinesa, na qual se evidenciam três edifícios de características miscigenadas luso-orientais, dois com chaminés fumegantes, rodeados por árvores e outros elementos vegetalistas, destacando-se uma peónia desabrochada. Sob um céu nublado e acinzentado, sobressai uma figura masculina chinesa, vestida de túnica, que se apoia num cajado e segura, na mão esquerda, um documento que poderá ser uma pauta de música. O covo é acentuado por uma faixa branca com grupos de seis contas dispostas em pirâmide, intercaladas por pequenas ramagens. Na aba, evidenciam-se quatro reservas elípticas, de molduras acentuadas, que enquadram grupos de três maços de documentos, atribuíveis a pautas musicais—inspirados nos símbolos chineses “rolos de pintura”, emblema de letrados—envolvidos por fitas onduladas. Entre as reservas, quatro paisagens com árvores e nuvens, centradas por figuras de chineses sentados, dois segurando um documento (semelhante ao da figura central) e os outros, em frente de um instrumento oriental de percussão. O tardoz, com frete recuado e aba ondulada, evidencia o trabalho da roda do oleiro, decorado com sete ramagens equidistantes, pintadas a azul com caules desenhados a manganês. É provável que a figura central e as quatro personagens da aba representem a história do lendário Lan Cahe (cf.: n.º 55), um dos Oito Imortais da mitologia chinesa, que viajava de cidade em cidade, compondo e cantando canções que previam o futuro e aludiam à imortalidade. A sua habilidade musical tornou-o patrono dos poetas. Esta peça é uma das mais representativas da difusão do gosto pela porcelana chinesa na Europa, processo no qual os portugueses tiveram um papel pioneiro, desde o início do século XVI. Este gosto foi largamente absorvido pela decoração da faiança lisboeta durante a centúria de Seiscentos, podendo considerar-se que esta obra-prima é um dos mais belos exemplos do exotismo das oficinas lisboetas e do gosto pela chinoiserie, que as faianças portuguesas revelaram.
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