Raro prato de faiança portuguesa do século XVII, de covo pouco acentuado, aba larga levantada e frete recuado, revestido de esmalte branco estanífero. A decoração periférica segue o padrão típico da porcelana Kraak, do período Ming - Wanli, pintada a azul-cobalto de tons fortes, mas, neste caso, centrada por escudo heráldico.

O exuberante brasão de formato ibérico, por vezes designado como “português” apresenta timbre inserido em cartela maneirista, e esquartelado com a antiga heráldica de Portugal e Aragão, sob a Coroa Real Portuguesa fechada, tratando-se de brasão de armas conventual ou de Ordem ligada ao culto Isabelino. Na primeira metade do séc. XVII, ainda durante o reinado dos Habsburgo, houve grande atividade no sentido da canonização da Rainha Santa Isabel, que culminou com a transladação do seu féretro para o Convento de Santa Clara-a-Nova de Coimbra em 1677.

A aba está dividida em oito reservas, cuja decoração alterna folhas de artemísia com cordões enrolados e ramos estilizados de boninas, separados por colunelos de laçadas suspensas, centradas por selos. No tardoz, aba decorada por sete reservas iguais de flor estilizada, separadas por traços verticais.

Peça heráldica bem representativa da combinação equilibrada de um brasão Europeu enquadrado pelos habituais motivos ornamentais derivados da porcelana chinesa Kraak, característicos da decoração das faianças portuguesas deste período.

A exuberância dos brasões de armas encontrados nas representações heráldicas nestes pratos de aparato reflete muitas vezes a rápida ascensão social da burguesia na época— que rivalizava, em gosto e luxo, com a nobreza e o alto clero — ávida destes produtos indicadores de poder e riqueza.