Banca Indo-Portuguesa , India, Goa, séc. XVII
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A designação de “arte indo-portuguesa” define as peças fabricadas no antigo Imperio português da India, essencialmente nas oficinas da Costa de Malabar, com maior incidência em Goa e Cochim, que muitas vezes funcionavam como entreposto de várias rotas, e cujo apogeu foi alcançado entre os seculos XVI e XVIII. A partir de 1498 a coroa portuguesa, iniciou uma política de expansão estabelecendo um contacto contínuo e permanente com a Ásia. Para além do esforço de cristianização - um dos estandartes erguidos para justificar a expansão - os interesses comerciais tiveram sempre enorme relevância.
O mobiliário doméstico, tal como é conhecido na Europa, não era tradicional na India antes do seculo XVI, o que impeliu os colonizadores a munirem-se de protótipos europeus adequados à sua vivência e que viriam a ser copiados pelos autóctones.
Deste modo, o papel da Índia na história do mobiliário limitou-se, em grande parte, a transformar e adaptar tipologias e morfologias ocidentais, dando-lhes um cunho muito próprio, bem visível nos materiais indianos, na iconografia, simbolismo, densidade e detalhes decorativos, promovendo o “nascimento” do estilo de móveis Indo-europeu, muito admirado e desejado no Ocidente; aliás, o fascínio e a sedução que o mesmo despoletou no seculo XVII, fez com que tenha adquirido o estatuto de mobiliário de luxo.
A essência estética e criativa da “arte indo-portuguesa” surge de uma miscigenação cultural, derivada da presença colonizadora e missionária, ou de meros contactos comerciais, com a influência local, num esforço de comunicação entre as várias religiões, raças, costumes e estéticas, resultando numa interessante interpenetração de culturas, que coexistiam pacificamente e elegantemente no mesmo móvel.
Fazem prova desta arte os exemplares que encontramos em certos museus e coleções particulares e que podem variar entre modelos de mobiliário litúrgico e civil, entre os quais vigoram: paramenteiros, oratórios, escritórios, contadores, camas, mesas, e outros. Peças que testemunham a força criativa da produção luso-indiana durante a Idade Moderna.
Destacamos a magnífica decoração de embutidos, que auferiu aos móveis um brilho e um esplendor grandioso muito aprazível ao gosto europeu. Normalmente com a estrutura em madeira de teca são decorados com incrustações de ébano e sissó, nalguns casos também com marfim, ao natural ou tingido, e guarnecidos com ferragens vazadas de metal dourado. A técnica de embutidos, realçada a partir do efeito claro-escuro, confere às peças um grande equilíbrio estético, com ilusão de volume e riqueza ornamental. Esta linguagem decorativa é claramente de influência hindu, plena de contrastes de sombra e luz, usando como subterfúgio o recorte de modelos geométricos, vegetalistas estilizados, e compósitos, onde podem ser reproduzidas figuras humanas, animais e mitológicas.
O mobiliário é, sem dúvida, um dos mais brilhantes capítulos da arte indo-portuguesa. Na verdade, em nenhuma outra disciplina o Oriente e o Ocidente se fundiram de forma tão homogénea.
Um dos móveis fundamentais nas habitações, e produzido desde os inícios da nossa colonização, em oficinas orientais, são as mesas, que no seculo XVII compreendiam essencialmente dois tipos: o bufete e a banca. Os bufetes são em geral maiores, com decoração de embutidos nas gavetas. Os pés são fortes e torneados com aplicações de cobre, metal amarelo ou bronze. A banca ou mesa, como a define Maria Helena Mendes Pinto, apresenta o tampo saliente dos dois lados, sustentada por pernas, fixadas por travejamento duplo e normalmente dotada de gavetas-escrivaninhas, para acomodar o material de escrita.
Invulgar Banca ou Mesa indo-portuguesa do séc. XVII, em teca e pau-santo, com embutidos e guarnições em marfim e ébano e decoração estilizada representando composições de motivos vegetalistas, animais e arabescos.
Tampo profusamente decorado, a partir de uma rosácea central estilizada, limitada por duplo círculo com padrão geométrico de losangos alternando também com círculos, a partir dos quais irradiam de forma centrípeta ânforas com elementos vegetalistas estilizados. Termina com longos filamentos de marfim, desenhando formas circulares e um padrão vegetalista ondulante que termina no olho e bico da águia Jatayu1.
Frente com duas gavetas-escrivaninhas apresentando elementos vegetalistas e escudetes em cobre, rendilhado e dourado. Nas faces laterais e tardoz ânfora central da qual parte um exuberante trabalho de embutidos, com enrolamentos estilizados e ramagens que terminam em flores. As gavetas apresentam pequenas divisórias para material de escrita, areeiro e tinteiro.
Pernas divergentes, ornamentadas pela alternância de losangos e círculos, terminando em pés na forma de Jatayu, figura mitológica protectora; são unidas por travessas quadrangulares e recortadas, decoradas com a mesma composição geométrica.
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