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Porta do Reino Holo , Reino do Congo, finais séc. XIX (?)

nogueira africana (Coula Edulis) (?)
150,0 × 53,0 x 8,0 cm
F1356
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Porta constituída por duas tábuas de madeira justapostas e unidas por traves nas extremidades, que apresenta duas figuras antropomórficas esculpidas em relevo no centro. Apesar da estilização formal e do talhe sintético que reduz as figuras ao essencial, podemos imediatamente associar ao cristianismo a figura de homem crucificado e a personagem ajoelhada com mãos unidas em oração. A posição frontal e a diferença de escala de ambas, remetem para a linearidade da arte africana subsaariana e para o esquematismo da arte devocional medieval do universo cristão. No painel esquerdo, a inusitada figura de Cristo na cruz, que surge de um fundo plano, apresenta braços abertos com as palmas das mãos voltadas para o observador e pernas delineadas em curva, cruzando-se ao nível dos pés. A cabeça, de pequenas dimensões, esboça expressão de dor e, tal como a figura que o ladeia e cuja fisionomia é mais serena, tem olhos semicerrados e idêntico tratamento de cabelo. O espaço vazio, simbólico, onde se inscrevem no mesmo plano as figuras de Cristo e do orante, faz realçar a posição e expressividade de ambas, condensando uma narratividade que as aproxima conceptualmente de um ícone cristão, para além da sua função arquitetural.Produzida pelos Holo, pequeno grupo étnico que migrou da costa Angola e se estabeleceu junto às margens do rio Kwango, no Congo democrático, entre Angola e o Zaire, a cronologia da porta aqui apresentada é incerta, tendo sido esculpida provavelmente no séc. XIX. Praticavam o complexo ritual da circuncisão, prática comum nesta região, inúmeros cultos da aflição e outro tipo de rituais, incluindo associações de carácter funerário, controlados pelo poder político (Tshonda, 2012: 84). Estes aspetos socioculturais estão intrinsecamente ligados às manifestações artísticas do povo. A arte Kongo entra numa categoria designada nkisi (plural - Minkisi), força espiritual transcendente que ligaria todas as entidades do mundo, habitando as almas humanas vivas e que, depois da morte, continuavam como antepassados (Thornton, 2020: 45). Esta força podia ser capturada em objetos físicos (iteke), frequentemente chamados de “fetiches” pelos viajantes europeus (idem: 45). Não será o caso desta peça da São Roque, cuja iconografia é o resultado dos contactos dos europeus com estes povos, incorporando um significado local sincretizado com um entendimento cristão. Peça de grande interesse, não só pela especto utilitário (arquitetónico) do suporte, como pelo significado intrínseco da zona escultórica, leva a que seja enquadrada numa categoria “nublosa”, por permitir suscitar diferentes interpretações, que também se podem sobrepor. Os Holo eram conhecidos pela arquitetura e por molduras esculpidas em madeira, onde se inscrevia uma figura com os braços abertos e grandes mãos, de palmas viradas para o visitante - semelhantes à figura crucificada esculpida nesta porta – por vezes duas figuras, em geral um casal. Estas esculturas destinavam-se aos cultos da aflição ndzaambi, que incluíam rituais divinatórios relacionados com dificuldades diversas, na esperança da sua resolução. A prática deste culto era comum a toda a região do Kwango e o termo ndzaambi foi adotado para designar ‘Deus’, uma consequência das missões cristãs. Este facto levou a interpretações erróneas de historiadores e etnólogos que confundiam o termo usado para designar o culto autóctone e o que se referia ao Deus único cristão (Tshonda, 2012: 105). Este sincretismo ou fusão de conceitos encontra-se intrinsecamente ligado a estas molduras, que foram manifestamente inspiradas pela iconografia cristã, particularmente pela imagem sofredora de Cristo na cruz (idem: 105). Apesar de adorarem os espíritos e nas suas cosmogonias não serem monoteístas, a arte Holo teve origem na arte cristã, embora influenciada estilisticamente pelos Suku e os Yaka, grupos étnicos seus vizinhos. Muitas das esculturas faziam parte de rituais, destinando-se a obter os seus desejos, seja fertilidade e saúde, uma boa caçada, entre outros. Tal como acontece com o reino do Congo, os Holo podem ter incorporado alguns aspetos do cristianismo na sua arte, lembrando que na primeira metade do séc. XVII os capuchinhos portugueses fundaram uma missão (Santa-Maria de Matamba), perto da capital Holo, em Angola. Na sua ação proselitista, estes padres terão utilizado e mostrado os ícones cristãos aos locais, em particular, o crucifixo e imagens e efígies de santos, certamente inspirando a arte dos Holo (idem: 106). Apesar de Maesen (in Tshonda, 2012: 106) considerar que o culto dnzaambi era completamente estranho à noção do Deus supremo, a porta testemunha que os Holo adotaram, não apenas algumas formas da arte cristã, mas também conceitos do cristianismo à espiritualidade local, à semelhança de fenómenos decorrentes destes encontros, noutras regiões. O papel destas figuras pode assim ser associado a uma forma de intermediação entre o mundo dos humanos e dos espíritos, contendo provavelmente uma função apotropaica ou de intercessão, tal como muitas das imagens icónicas devocionais medievais europeias. As portas são uma arte essencial para a compreensão das opções estilísticas em algumas regiões de África (como também é o caso na Costa do Marfim), pelas figuras esculpidas, alegóricas ou decorativas, dispostas numa superfície plana (Boyer, 2006: 300). A forma retangular do objeto é definida pela sua função, que condiciona a inserção das personagens num espaço que não pretende ser ilusionista, mas que se torna simbólico - especialmente no caso desta obra Holo da São Roque, sob ascendente do cristianismo, com a imagem de Cristo crucificado e da personagem ajoelhada, em oração ou súplica. Se o seu significado se completaria como parte da arquitetura para a qual se destinava, o atual reconhecimento como obra de arte que resulta de um processo transcultural, parece que ainda nos surpreende pelo seu carácter simbólico e pela história que condensa.
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Provenance

Manuel Castilho, Lisboa

Exposições

The Art of a Continent, Royal Academy of Arts, Londres, 1995 (cat. p. 256, no. 4.23)
Guggenheim Museum, New York, 1996
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