Olifante Sapi-português com o Brasão Real Português e a Cruz da Ordem de Cristo , c. 1490-1530
marfim entalhado
30,5 cm
F1340
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Provenance
Col. Guy Ladrière, Paris; Pedro Aguiar Branco, Porto; Teresa Paramés, Lisboa.Publicações
Bassani, Ezio, African Art and Artefacts in European collections, 1400–1500, London, British Museum Press, 2000, no. 786; Bassani, Ezio, et alt., Sièges Africains, Réunion des Musées Nationaux, Paris, 1994, p. 253, no. 5; Dias, Pedro, A Arte do Marfim—O Mundo onde os Portugueses Chegaram, Porto,V.O.C. Antiguidades, 2004, p. 42, no. 9.
As primeiras obras de arte que resultaram do encetar de relações comerciais entre os portugueses e as populações etnicamente diversas da África Ocidental, desde a Costa da Alta Guiné aos Reinos do Congo e Angola, são os primeiros objectos verdadeiramente multiculturais resultantes da expansão ultramarina portuguesa.Quanto aos marfins entalhados para a nova clientela portuguesa, a sua atracção residia sobretudo no seu material, dada a alta valorização das qualidades artísticas do marfim de elefante, mais sublinhado pela sua relativa raridade na Europa até então. Durante o Renascimento, a qualidade dos materiais e a superior perícia técnica posta na sua transformação estavam no âmago do consumo das elites europeias, sendo o caso também dos objectos produzidos um pouco por todo o mundo e que chegavam à Europa a bordo dos navios portugueses a partir dos finais do século XV.Tem havido, nas últimas décadas, um considerável interesse académico pelos marfins entalhados produzidos na África Ocidental sob influência portuguesa, mais ou menos directa, nos inícios do período moderno. Estudos de William Fagg, Ezio Bassani, Kathy Curnow, Peter Mark, Jean Michel Massing e Kate Lowe, entre outros estudiosos, oferecem-nos novos e valiosos contributos sobre o tema.O primeiro, e provavelmente o maior e mais importante centro de produção de marfins entalhados da costa ocidental africana foi identificado como a actual Serra Leoa, cujo lugar de destaque é fácil de compreender se tivermos em conta a cronologia da exploração costeira portuguesa e a sua riqueza em marfim de elefante. Tem havido um consenso geral quanto à identificação dos artesãos responsáveis por esta produção com os povos Temne e Bullom da Serra Leoa, tanto através de fontes literárias e documentais coevas, como de comparações estilísticas com produções artísticas anteriores da mesma região, nomeadamente com pequenas esculturas em pedra conhecidas como nomoli.Duarte Pacheco Pereira (1460-1533), capitão, soldado, explorador e cosmógrafo português, no seu Esmeraldo de situ orbis, escrito por volta de 1506, refere que na Serra Leoa, junto ao rio Kolenté, fazem uns belos tapetes de fibra de palmeira e também colheres de marfim, acrescentando que os Bullom fazem as mais subtis, ou seja, as mais delicadas e mais bem feitas colheres de marfim do que em qualquer outro lugar. O tipógrafo de origem alemã Valentim Fernandes († ca. 1518-1519), escrevendo entre 1506-1510, com base em relatos de Álvaro Velho do Barreiro sobre a Serra Leoa, refere que os negros desta terra são muito subtis nas artes manuais, fazendo saleiros e colheres de marfim, e tudo o que lhes é apresentado em desenho eles o cortam, isto é, esculpem, em marfim. Os olifantes ou trompas de caça, com sua forma e iconografia de origem europeia, adaptadas de gravuras com cenas de caça dos finais do século XV e inícios do século XVI, estão entre os objectos mais fascinantes produzidos neste contexto na Serra Leoa. O presente exemplar, que apresenta as armas da casa real portuguesa, é excepcional pelo seu desgaste, que atesta a real utilização de tais objectos, em contraste com alguns exemplares que sobreviveram imaculados em colecções principescas renascentistas ou Kunstkammern.
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