Par de Chenêts Luís XVI, França, séc. XVIII
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Provenance
Col. Ricardo do Espírito Santo Silva — Palácio do Sobralinho, Alverca, Vila Franca de Xira, Portugal (sala no piso térreo)Par de chenêts em bronze dourado, finamente recortado e cinzelado, do final do século XVIII correspondendo, pelas características formais e iconográficas, ao período artístico do Estilo de Luís XVI (c. 1760 - 1789)[1].
A base geométrica nitidamente simétrica, de linhas direitas e ângulos assinalados, é constituída por um plinto prismático limitado à periferia por dois montantes paralelepipédicos que o suportam. Ao centro do soco eleva-se plataforma de curvas suaves, onde repousa naveta com pés de feição caprídea e tampa campaniforme.
Nesta base sobressai medalhão oval preenchido por composição floral irradiante a partir de margarida e envolvido por moldura lisa. Esta placa ovalada está colocada por cima de uma serie de estrias contiguas que ocupam toda a superfície da face frontal, limitadas por barra lisa periférica, e que se repete nas faces laterais e arcos ascendentes. Por cima exuberantes ramos de folhas de carvalho e seus frutos.
Os montantes estão adornados com chapa adossada onde ressalta tocha cinzelada de extremidades flamejantes. Assentam sobre elegantes pés em coluna anelada, sobressaindo bolacha decorada com folhas intrincadas de louro e terminam em característica pinha alteada.
No corpo da naveta, elegantes pegas em forma de cabeça de carneiro e quatro suportes com decoração estriada que a abraçam, prolongando-se em pernas de apoio, com pelagem finamente cinzelada e que terminam em patas de casco fendido. A taça ao centro esta sobre vaso gomado.
A tampa é ornamentada por sequência de folhas de loureiro e seus frutos, separadas por bandas lisas e termina por pega em romã expandida.
O tardoz é aberto para dar lugar às barras de ferro que suportariam trempe onde era colocada a madeira necessária à combustão.
Atendendo, às formas simplificadas da estrutura, à ornamentação que respeita simetria absoluta, assim como aos elementos utilizados - placas em bronze finamente estriado, medalhão oval, vasos gomados, pinhas, tochas flamejantes, asas em cabeça de carneiro e utilização das folhas de loureiro e de carvalho - estes chenêts pertencem estilisticamente à época de Luís XVI, embora já se sinta a sobriedade do final do período, reflexo das ideias literárias e filosóficas que irão conduzir à Revolução Francesa, onde os ramos de carvalho simbolizarão a vertus civique (virtudes cívicas)[2] , a força e resistência. A elegância e singeleza da forma, a decoração em folhas de carvalho expandidas e a abundante utilização de estriados, anunciam já o estilo Diretório.
O desenhador ornamentista francês Richard de Lalonde, (1735 -1808), activo entre 1780 e 1796, publica algumas gravuras de traçado idêntico a estes chenets[3]. Artesão e artista dotado, desenhador do Garde – Meuble real, caracterizou-se pelo requinte de formas e singularidade decorativa, dentro do próprio estilo Luís XVI[4].
Estes objectos, utilizados em lareiras sumptuosas, ocultam com grande requinte o topo dos enegrecidos ferros de apoio às grelhas de combustão. O ouro, elemento preferido pelos escultores bronzistas, era aplicado depois de moído e dissolvido em mercúrio que, se evaporava com o aquecimento, retendo apenas o metal brilhante. Podemos imaginar o esplendor emanado destas peças quando clareadas, no seu reverso, pelas chamas.
Teresa Peralta
[1] Cf.: Como sabemos, um estilo artístico raramente corresponde em absoluto à época histórica e política pela qual é designado. Optámos por isso pela datação cronológica estilística cedida pelo Museu do Louvre, em Paris.
[2] https://revolution-francaise.net/2006/12/16/58-le-civisme-a-l-epreuve-de-la-revolution-francaise; Cf.: Jacques Dumont, Claire Van Weyenberg, L’Encyclopédie des Styles – Tome I, Bélgica, Gerard & Cª., 1969, p. 188
[3] https://collections.vam.ac.uk/item/O759562/oeuvres-diverses-de-lalonde-decorateur-etching-lalonde-richard-de/oeuvres-diverses-de-lalonde-décorateur-etching-lalonde-richard-de/
[4] Lalonde aparece citado nas contas do Garde Meuble por conceber desenho de peças a vários ébénistes, entre os quais Guillaume Benneman que foi o principal fornecedor da Corte Francesa nos últimos anos do reinado de Luís XVI. Cf.: Comte François de Salverte, Les ébénistes du XVIII ème Siècle – Leurs Oeuvres et Leurs Marques (cinquième edition), Paris, F. de NOBELE, 1962, pp. 16-17.
Pair of finely cast, chiselled and gilt bronze 18th century firedogs which, by their formal and iconographic characteristics, can be dated to the Louis XVI style period (ca. 1760-1789)[1].
The geometric and simultaneously symmetrical design, of straight lines and sharp edges, is defined by a prismatic plinth, peripherally marked by two parallelepiped uprights that sustain it. The plinth is centred by a softly curving platform surmounted by goat hooved navette of bell shaped cover.
From the front stands out an oval medallion of radiant floral composition, centred by daisy and encircled by plain frame. This plaque overlaps a continuous broad ribbed band that stretches across the frontal surface, framed by peripheral plain border that repeats on the lateral surfaces and on the upper arches. Crowning the medallions an exuberant composition of oak leaves and acorns.
The upright elements are decorated with applied plaque with elegant chiselled torches of flaming edges. They stand on elegant ringed column feet of flattened bun with overlapping laurel leaves decoration, being topped by cast and chiselled pine cones.
The elegant navettes feature ram’s head handles and four, ribbed decoration brackets that metamorphose into supporting elements of fine chiselled fur, terminating in cloven hooves. Under each navette an elegant gadrooned vase.
The cover ornamental composition is defined by a sequence of laurel leaves and berries, separated by plain bands and crowned by a pomegranate shaped pommel.
The firedogs back is hollow to fit the iron bars that would support the frame for the burning wood.
Taking into account the structure’s simplified forms, the absolute symmetry of the ornamentation and the elements selected – finely striated bronze, oval medallions, gadrooned vases, pine cones, flaming torches, ram’s head handles and the presence of laurel and oak leaves – these firedogs belong stylistically to the Louis XVI reign, although they may correspond to its final years.
There is a sense of rigidity and sobriety that reflects literary and philosophical ideals that will culminate in the Revolution, a time when the oak branches become symbolic of vertus civique (civic virtues)[2] , of strength and resistance. Additionally, the evident elegance and formal simplicity, the adoption of the oak leaves and the abundant ribbed motifs announce the Directoire style.
The French ornament designer Richard de Lalonde, (1735 -1808), active 1780-1796 published prototypes similar to these firedogs[3]. Artisan and talented artist as well as designer to the Garde-Meuble Royale, Lalonde work was defined by formal refinement and decorative singularity, within the Louis XVI style canons[4].
This type of fire furniture, used in the most sumptuous fireplaces, were conceived to hide, with great refinement and sophistication, the top of the blackened iron frames that held the combusting logs. Gold, the element favoured by the bronze founders, was applied once grinded and dissolved in mercury, chemical that evaporated under the action of heating, leaving solely the golden shining surface that reflected the light emanated by the flames behind.
[1] Cf.: Artistic styles do not fully correspond to the historical and political period from which they take their name. As such we have opted for stylistic chronological dating provided by the Musée du Louvre in Paris.
[2] https://revolution-francaise.net/2006/12/16/58-le-civisme-a-l-epreuve-de-la-revolution-francaise; Cf.: Jacques Dumont, Claire Van Weyenberg, L’Encyclopédie des Styles – Tome I, Belgium, Gerard & Cª., 1969, p. 188
[3] https://collections.vam.ac.uk/item/O759562/oeuvres-diverses-de-lalonde-decorateur-etching-lalonde-richard-de/oeuvres-diverses-de-lalonde-décorateur-etching-lalonde-richard-de/
[4] Lalonde is referred in Garde Meuble accounts for providing designs to various ébénistes amongst which Guillaume Benneman who was the main supplier to the French court in the final years of King Louis XVI reign. Cf.: Comte François de Salverte, Les ébénistes du XVIII ème Siècle – Leurs Oeuvres et Leurs Marques (cinquième edition), Paris, F. de NOBELE, 1962, pp. 16-17.
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