Pichel com a Deusa Vénus , Lisboa, 1630-1650
faiança portuguesa
27 cm
C747
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Pichel de faiança portuguesa (1630-50) coberto de esmalte branco decorado a azul-cobalto. Apresenta corpo periforme, colo alto, pega semicircular e assenta sobre base cónica. Uma tampa em estanho presa à asa, cobre o bocal.A decoração centra-se em cartela polilobada, que se estende pelo colo e encerra composição com figura feminina desnuda (Vénus?), sentada na cerca de um jardim com lago ao fundo. Está ladeada por dois arbustos, respetivamente, cameleira e pessegueiro (?), que se estendem até ao filamento, que separa o corpo do colo. Neste, a moldura esta preenchida por um ramo de pessegueiro com o seu fruto. Lateralmente e no tardoz do bojo, a superfície está totalmente preenchida com composição vegetalista, onde se destacam dois crisântemos, simetricamente colocados em relação à asa, que decorada com pinceladas soltas ou gestuais e paralelas a azul. No colo, reservas laterais preenchidas com espirais, separam a cartela central da asa. A base do bojo termina por faixa rodada decorada com linhas paralelas e contínuas entre dois filetes, assentando em superfície cónica decorada com um anel com ornamento circundante e radial em “unhões”.O artista oleiro imita e reinterpreta o que observou na porcelana chinesa. Imita a sua flora e os seus símbolos, com intenção decorativa adaptando-a ao formato da peça, sem o intuito poético que qualquer artista chines lhe conferiria. Reproduz a vegetação em azul, com diferentes graus de diluição, assimilando tanto a temática quanto a técnica. No entanto, no caracter híbrido / miscigenado da peça destaca-se a cartela com representação de Vénus que evidencia o pensamento mais individualista da arte ocidental fazendo sobressair a figura humana que se agiganta em relação à paisagem, ela domina-a, contrariando os pressupostos da cultura e da arte chinesa, onde, normalmente, as figuras se integram sem sobressaírem . Os elementos decorativos na porcelana chinesa nunca são puramente ornamentais, carregando um carater alegórico. Todos são auspiciosos e positivos, fazendo parte de uma iconografia experimentada durante milhares de anos. Ressaltamos aqui a camélia e o pêssego (emblemas de casamento), que ladeiam Vénus e simbolizam, respectivamente, a lealdade/fidelidade e a imortalidade. No tardoz o crisântemo que representa a jovialidade e a longevidade. Os vários estudos vieram a demonstrar que estas peças chamadas de “garrafas de Hamburgo” provinham directamente de oleiros olissiponenses. Luis Keil, um dos primeiros a alertar a comunidade para este assunto concluiu que os objectos encontrados na Alemanha eram idênticos aos portugueses, quer no material (argila e esmalte), quer na cor azul. Referiu ainda que, “Estas peças ou seriam encomendas [feitas] aos oleiros de origem portuguesa, judeus vivendo em Hamburgo, ou seriam especialmente encomendadas pelos negociantes hanseáticos residentes em Lisboa, ou daqueles que tinham grosso trato em Portugal” . Confirmou-se a partir de listas de vendas e leilões realizados em Hamburgo entre 1628-40, que as faianças portuguesas eram de utilização corrente entre os estratos mais elevados da sociedade .A morfologia mais numerosa terá sido a dos jarros ou picheis de exportação como atestam os diversos exemplares encontrados nos museus de Hamburgo, (Schlossmuseum, no Hamburgishe Geshiste e no Für Kunst und Gewerbe), de Estocolmo, (Hamburgishe Geshiste Museum e National Museum), de Viena, (Museum für Kunst und Industrie), e de Copenhaga (Nationalmuseum). Também em Londres, no Victoria and Albert e no British Museum, subsistem alguns exemplares ligados ao comércio português com a Liga Hanseática. O oleiro português imita a flora e os símbolos da porcelana chinesa, com intenção decorativa adaptando-a ao formato do próprio objecto, sem o intuito poético que qualquer artista chines lhe conferiria.
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