Um Pendente Devocional cingalês-português , Ceylon (present-day Sri Lanka) 2nd-half of the 16th century
ouro, cristal de rocha, rubis e marfim
4,0 x 1,0 x 1,0 cm
F1282
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Raro pendente pertence a um pequeno grupo de joias devocionais em cristal de rocha produzidos no Ceilão durante o domínio português, com cenas religiosas e figuras minuciosamente entalhadas em marfim, copiando modelos europeus. Esta peça de joalharia, com rubis de talhe cabochão, cravados segundo uma variação cingalesa da técnica indiana kundan (literalmente “ouro puro”), conhecida por tahadu kola baemma (literalmente “união de folheta [de ouro]”), consiste numa coluna quadrangular de cristal de rocha furada de lado a lado e contendo uma miniatura entalhada em marfim, montada em ouro enriquecido com gemas. Apresenta uma argola para suspensão. A filigrana aplicada - que podemos ver noutras bem conhecidas obras como o cofre de marfim “Robinson” do Victoria and Albert Museum, Londres (inv. IS.41-1980) a decorar a lingueta da fechadura - é típica da joalharia cingalesa deste período, sendo característica dos ourives de origem Tamil (badallu) a trabalhar para as oficinas régias de Kotte, no Ceilão. Concebida como objecto de meditação cristã, é poderoso e importante testemunho do trabalho de missionação levado a cabo na ilha pelos franciscanos, na segunda metade do século XVI. Cada face apresenta iconografia entalhada com minúcia no marfim: Santo António de Pádua (ou Lisboa) com o Menino, um dos santos patronos dos franciscanos; Nossa Senhora Coroada; a Flagelação de Cristo; e Menino Jesus Salvador do Mundo, ou Salvator Mundi.A mais importante fonte documental sobre o consumo de asiatica na Lisboa de Quinhentos, nomeadamente deste tipo de peças de joalharia do Ceilão, é o inventário de 1570 dos bens deixados por Simão de Melo Magalhães, capitão de Malaca entre 1545 e 1548. Algumas das peças de joalharia e objectos preciosos cingaleses aí registados incluem o cristal de rocha na sua produção. Mencionados no inventário estão fiadas de contas (rosários e terços), como: “hũm Ramal de contas de cristal com cinco estremos d’ouro de Rubis de Ceillão e hũa cruz do mesmo feitio”; outra fiada de contas de cristal de rocha com cinco estremos de ouro; e uma outra fiada mais pequena de contas de cristal de rocha também com cinco estremos de ouro. Averbados depois dos rosários, surgem peças de grande valor de refinamento: objectos sumptuários de ourivesaria copiando modelos europeus, como sendo “tres colheres de cristal guarneçidas d’ouro e de Rubis de Çeillão”, e “tres garfos de cristal guarnecidos d’ouro e de Rubis de Çeilão”. Estas peças seriam em tudo semelhantes aos bem conhecidos colher e garfo de cristal de rocha outrora na colecção de D. Catarina de Áustria e do seu sobrinho, o imperador Rudolf II, que sobrevivem na Kunstkammer de Viena. Entalhados a partir de material de grande transparência, apresentam montagens de ouro decoradas com filigrana aplicada sendo ambos cravejados de pequenos rubis em virolas losangulares com kundan à semelhança do nosso pendente de cristal de rocha.As peças sobreviventes idênticas à presente incluem um conhecido medalhão oval (6,9 x 4,6 cm) do Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa (inv. 868 Joa) que representa Nossa Senhora do Rosário segurando o Menino Jesus de um lado e o Calvário do outro. Envolvidas por pequenas placas de cristal de rocha ovais, que encapsulam as cenas miniaturais em marfim, a estrutura é mantida unida por suportes articulados em ouro, formando duas molduras decoradas com filigrana aplicada (secção quadrada simples, e fio achatado) cravejada de pequenos rubis em talhe cabochão e safiras na técnica kundan, e quatro quadrifólios cravejados de rubis e safiras decorando as secções intermédias, fechadas no rebordo com fio de ouro torcido. Uma outra peça, em forma de cilindro (com tubo de cristal de rocha protegendo a cena interior em marfim) tem uma representação minuciosa em marfim entalhado e pintado de Cristo atado à Coluna, engastada em ouro com rubis em talhe cabochão; pertence a uma colecção particular portuguesa. Num pendente semelhante, com a mesma forma cilíndrica (4,7 cm de altura), vemos uma representação minuciosa da Virgem com o Menino em marfim entalhado e polícromo, pertencente ao British Museum, Londres (inv. 1872.0604.900), também cravejado com rubis em cabochão. O presente pendente, que pertencia à colecção do Comendador Américo Duarte de Almeida Barreto, esteve por muitos anos em depósito no Museu Nacional de Arte Antiga (inv. 62 B), exposto junto ao já referido medalhão oval. Ambos foram publicados lado a lado pela primeira vez em 1995.
Provenance
Coleção Américo Barreto, Lisboa.Publications
Leonor D'Orey, "Cinco Séculos de Joalharia", Lisboa, MNAA, 1995 (p. 22).1
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