Salva de Grandes Dimensões da Coleção do Rei D. Fernando II , Colonial Ibérica séc. XVII
Prata
4 x 38 x 38 cm
B300
Further images
Provenance
Rei Fernando II e Artur Sandão, Portugal.Exhibitions
Exposição Ourivesaria Portuguesa, Porto, 1949.Publications
XAVIER, H., “Propriedade Minha”, Ourivesaria, Marfins e Esmaltes da Colecção de D. Fernando II', Sintra, 2022, p. 324.
Embora a história custodial deste fruteiro, também descrito como salva ou prato de apresentação, para os séculos XIX e XX seja bem conhecida, a sua origem geográfica e datação são mais difíceis de determinar. No inventário manuscrito de 1866 da sua colecção de pratas, marfins e esmaltes, recentemente publicado, do punho de D. Fernando II de Saxe-Coburgo-Gotha (1816-1885), consorte da rainha D. Maria II (r. 1826-1828 e 1834-1853) ), este fruteiro é registado como uma “Salva de prata de trabalho todo transforado. Provavelmente obra hespanhola dos fins de 1500. Peça bem feita e muito bonita. Compr. a R. Pinto. - propr. minha”. Propriedade pessoal do rei e não pertencente à Coroa portuguesa, o fruteiro é considerado pelo rei como sendo de origem espanhola e datando de finais do século XVI. Como prova de propriedade, no centro do fruteiro vemos a cifra pessoal do rei, um “F” maiúsculo gótico coroado na frente e o número “19” igualmente gravado a buril no tardoz. Foi comprado a Raimundo José Pinto (1807-1859), conhecido ourives de Lisboa que, sendo amigo íntimo do monarca, foi o principal agente artístico do rei. Embora D. Fernando II coleccionasse em diversas áreas, torna-se claro que a prataria antiga, nomeadamente a prata portuguesa do século XVI, lhe era muito cara, ocupando lugar central nas actividades coleccionísticas do rei. Embora o fruteiro tenha sido certamente adquirido antes de 1859, quando Raimundo Pinto morre, não sabemos nada sobre os seus anteriores proprietários. Raimundo José Pinto, que se dedicava sobretudo à venda de prataria antiga e jóias, beneficiou em muito com a extinção das ordens religiosas masculinas em Portugal (1834) e a nacionalização dos seus bens. As muitas famílias aristocráticas portuguesas, em grandes dificuldades financeiras após as Guerras Liberais (1832-1834), forneceram para venda um provimento constante de objectos de superior interesse, sendo que a maioria dos quais deixou o país neste conturbado período.A par de muitos outros objectos da colecção do rei, o fruteiro foi fotografado por Charles Thurston Thompson (1816-1868) em 1866 no Palácio das Necessidades em Lisboa (fig. 1). Promovida pelo South Kensington Museum (fundado em 1852), que antecedeu o actual Victoria and Albert Museum, em Londres, a fotografia faz parte da maior, mais importante, e ambiciosa das campanhas fotográficas realizadas no Portugal oitocentista quanto às obras de arte. A campanha oferece-nos um registo visual completo da coleçcão particular do rei (e também da Coroa) nas suas residências, os palácios das Necessidades e da Ajuda. Um exemplar da fotografia do fruteiro pertence àquele museu londrino (inv. 58563). Na legenda da fotografia lê-se, em inglês: “Salva, ou fruteiro vazado com motivos de arabesco e pontas de madressilva na aba; prata. Provavelmente obra indiana do século XVI ou XVII. No Paço Real das Necessidades de Lisboa.” Embora a peça tivesse sido identificada pelo rei como provavelmente espanhola, esta nova legenda admitia agora a possibilidade de ser indiana e datada de forma mais ampla, abrangendo o século XVII. A legenda inglesa foi provavelmente preparada previamente pelo conservador do museu, John Charles Robinson (1824-193), na sua viagem preparatória a Portugal. É curioso notar que a cifra gravada do rei não é visível na fotografia, podendo ter sido acrescentada em data posterior. Na foto, podemos ver uma grande etiqueta quadrada no tardoz contra o fundo escuro, enquanto o pé anelar também não é visível.É possível que este fruteiro seja o descrito no inventário post mortem do rei (Inventário Orfanológico) de 1886, que regista na secção relativa ao Gabinete d'El Rey, sob o número 2439: “Uma sálva de filagrana do Seculo 18.º, diametro trinta e oito centímetros marcada com o numero dois mil dusentos e setenta e um. Avaliada na quantia de cento e oitenta mil reis”. Foi leiloada com este mesmo número em 1893 e registada no catálogo de venda publicado em 1892. Desconhece-se o seu paradeiro até 1949, altura em que o fruteiro é exposto na Exposição de Ourivesaria Portuguesa, dedicada à prataria portuguesa antiga e contemporânea promovida pelo Grémio dos Industriais de Ourivesaria do Norte, no Porto. Do catálogo da exposição ficamos a saber que o fruteiro pertencia então à colecção de Arthur de Sandão, especialista em Artes Decorativas Portuguesas e director do Museu Municipal de Viana do Castelo, tendo publicado sobre faiança portuguesa e mobiliário. Nesta fotografia (figs. 2-3) do arquivo da Fotografia Alvão Lda., estúdio fotográfico sediado no Porto e fundado por Domingos Alvão em 1901, agora pertencente ao Centro Português de Fotografia, podemos ver este fruteiro junto a exemplares de prataria maioritariamente portuguesa dos séculos XVII e inícios do XVIII. A par de outros objectos que pertenceram a Arthur de Sandão, que lhe doou a sua importante colecção de faiança portuguesa, este fruteiro pertenceu até há pouco tempo ao Ateneu Comercial do Porto e posteriormente a uma colecção particular do Porto. Uma análise cuidadosa do fruteiro permite-nos compreender melhor as técnicas utilizadas no seu fabrico. O fruteiro é constituído por várias secções produzidas por fundição soldadas entre si, assentando num pé anelar também vazado e produzido de forma semelhante. Considerando a sua aparência rugosa, as secções individuais podem ter sido produzidas por fundição em areia ou, embora menos provável, usando a técnica da cera perdida. Isso mesmo podemos ver nos muitos problemas de fundição que apresenta, como porosidade, defeitos como aletas e rebarbas, desigualdades na espessura ou excesso de fluxo de prata cobrindo o interior do vazado, etc. A roseta central é composta por doze painéis seguindo um desenho espelhado, enquanto o aro é composto por doze grandes secções em forma de folha soldadas à rosácea central, com doze motivos menores também em forma de folha posicionados entre as secções maiores. A roseta central e a aba apresentam um padrão espelhado de enrolamentos vegetalistas com animais e figuras reais e fantásticos (aves, cães, caracóis, esquilos comendo fruta, cabeças de dragão e figuras humanas empoleiradas em galhos comendo fruta). Esta decoração de “arabescos”, embora reminiscente de gramáticas mais exóticas, é europeia no estilo e execução.
Join our mailing list
* denotes required fields
We will process the personal data you have supplied in accordance with our privacy policy (available on request). You can unsubscribe or change your preferences at any time by clicking the link in our emails.