Garrafa Palmeta Persa , Lisboa, 1625-1650
faiança portuguesa
20 cm
C730
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Rara garrafa de faiança portuguesa da primeira metade do século XVII, ornamentada em dois tons de azul-cobalto sobre esmalte estanífero branco.
De corpo esférico globular e achatado, tem o gargalo cilíndrico, elevado e estreito, terminado em bordo revirado e saliente. Está assente em pequeno frete recuado.
No bojo rodado destaca-se faixa, larga e contínua, com paisagem chinesa constituída por rochedos e pagodes - dois em torre de quatro níveis ou beiradas e um de três andares - entre decoração vegetalista estilizada. Termina na parte superior por sequencia de espirais, suspensas em dois filetes, que marcam a transição para o gargalo. Sob a paisagem, filete com decoração centrípeta suspensa que atribuímos a gradeamento de pinázios verticais em seta, uma criação do oleiro a partir das folhas de plátano, que aqui alternam com cabeças de ruyi, ambos da gramática ornamental chinesa. Está assente em pé circular e recuado a azul-cobalto.
Da base do gargalo até ao bocal, revirado e saliente, orla de longas folhas ou fitas sinuosas e pontiagudas, que alternam com tiras lisas igualmente bicudas.
A forma da garrafa, embora constitua um dos padrões formais encontrados na faiança portuguesa do seculo XVII, remente também para os protótipos do período Chongzhen (1611-1644), o último Imperador da dinastia Ming[1]. A decoração é predominantemente chinesa, não só pelo uso do óxido de cobalto, onde pingos assinalam áreas específicas de coloração mais densa, mas também nos elementos decorativos que o oleiro português adapta rigorosamente ao seu formato.
É uma peça bastante invulgar pela miscigenação decorativa que ilustra, entre o enfoque dado à porcelana chinesa e a representação de um avultado elemento vegetalista europeu, bastante distinto, que surge reproduzido junto aos dois pagodes de quatro andares. Trata-se provavelmente de elemento típico da majólica italiana designado “palmeta persa” ou “latada persa” que, no seu especto original, é constituído por um ramo de oito pétalas aguçadas que surgem de um caule vertical[2] (Fig. 1), e que o oleiro tenta representar de maneira esquemática em formato triangular, sem reproduzir fielmente o número de pétalas.
As espirais contiguas que limitam a paisagem, embora correspondam com maior probabilidade a nuvens de origem chinesa ou a “colar de espirais” motivo usado porcelanas do reinado do Imperador Wanli (1572-1620) segundo João Pedro Monteiro[3], não podemos excluir que possa ter origem nas peças valencianas do séc. XVI.
Fig. 1 – Albarello com decoração de palmeta persa (1540-70)- Museu de Arte Sacra de Massa Maritima.
Para além criatividade decorativa desta garrafa, a singularidade desta garrafa reside igualmente na sua forma elegantemente bojuda, que raramente encontramos.
[1] Ver: Jessica Harrison – Hall, Ming Ceramics in the British Museum, London, The British Museum Press, 2001, p. 288, cat. 11:26;
[2] O exemplo mais célebre da “latada persa” é o pavimento de Majólica da capela de S. Sebastião na Basílica de S. Petrónio, em Bolonha, encomendado a Bettini e Petrus Andrea di Faenza em 1487; ou a Manga em Majólica (1500-1510) no acervo do Museu do Louvre (Invº. OA 8233); Cf.: H. P. Fourest, La Ceramique Européene, Paris, 1988, pp. 60-62. ; Cf. Fig .1.
[3] João Pedro Monteiro, in A Influencia Oriental na Cerâmica Portuguesa do século XVII (Cat.), M.N.Az.,1994, p. 28.
De corpo esférico globular e achatado, tem o gargalo cilíndrico, elevado e estreito, terminado em bordo revirado e saliente. Está assente em pequeno frete recuado.
No bojo rodado destaca-se faixa, larga e contínua, com paisagem chinesa constituída por rochedos e pagodes - dois em torre de quatro níveis ou beiradas e um de três andares - entre decoração vegetalista estilizada. Termina na parte superior por sequencia de espirais, suspensas em dois filetes, que marcam a transição para o gargalo. Sob a paisagem, filete com decoração centrípeta suspensa que atribuímos a gradeamento de pinázios verticais em seta, uma criação do oleiro a partir das folhas de plátano, que aqui alternam com cabeças de ruyi, ambos da gramática ornamental chinesa. Está assente em pé circular e recuado a azul-cobalto.
Da base do gargalo até ao bocal, revirado e saliente, orla de longas folhas ou fitas sinuosas e pontiagudas, que alternam com tiras lisas igualmente bicudas.
A forma da garrafa, embora constitua um dos padrões formais encontrados na faiança portuguesa do seculo XVII, remente também para os protótipos do período Chongzhen (1611-1644), o último Imperador da dinastia Ming[1]. A decoração é predominantemente chinesa, não só pelo uso do óxido de cobalto, onde pingos assinalam áreas específicas de coloração mais densa, mas também nos elementos decorativos que o oleiro português adapta rigorosamente ao seu formato.
É uma peça bastante invulgar pela miscigenação decorativa que ilustra, entre o enfoque dado à porcelana chinesa e a representação de um avultado elemento vegetalista europeu, bastante distinto, que surge reproduzido junto aos dois pagodes de quatro andares. Trata-se provavelmente de elemento típico da majólica italiana designado “palmeta persa” ou “latada persa” que, no seu especto original, é constituído por um ramo de oito pétalas aguçadas que surgem de um caule vertical[2] (Fig. 1), e que o oleiro tenta representar de maneira esquemática em formato triangular, sem reproduzir fielmente o número de pétalas.
As espirais contiguas que limitam a paisagem, embora correspondam com maior probabilidade a nuvens de origem chinesa ou a “colar de espirais” motivo usado porcelanas do reinado do Imperador Wanli (1572-1620) segundo João Pedro Monteiro[3], não podemos excluir que possa ter origem nas peças valencianas do séc. XVI.
Fig. 1 – Albarello com decoração de palmeta persa (1540-70)- Museu de Arte Sacra de Massa Maritima.
Para além criatividade decorativa desta garrafa, a singularidade desta garrafa reside igualmente na sua forma elegantemente bojuda, que raramente encontramos.
[1] Ver: Jessica Harrison – Hall, Ming Ceramics in the British Museum, London, The British Museum Press, 2001, p. 288, cat. 11:26;
[2] O exemplo mais célebre da “latada persa” é o pavimento de Majólica da capela de S. Sebastião na Basílica de S. Petrónio, em Bolonha, encomendado a Bettini e Petrus Andrea di Faenza em 1487; ou a Manga em Majólica (1500-1510) no acervo do Museu do Louvre (Invº. OA 8233); Cf.: H. P. Fourest, La Ceramique Européene, Paris, 1988, pp. 60-62. ; Cf. Fig .1.
[3] João Pedro Monteiro, in A Influencia Oriental na Cerâmica Portuguesa do século XVII (Cat.), M.N.Az.,1994, p. 28.
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