Conjunto de 12 cadeiras D. João V, séc. XVIII
Portuguese furniture making from the 17th and 18th centuries is endowed with specific features that distance it from its European counterparts, particularly for its favoured choice of raw materials – the solid, dense and patterned exotic Brazilian hardwoods – that give it its mellow and contrasting tones and subtle dark shades. These characteristics that reinforce chromatic impact and allow for virtuosity of ornament, were successfully exploited by Portuguese cabinetmakers, particularly from the early 18th century, and reached a climax with the successful interpretation and transfer of “Rocaille” aesthetic principles into furniture typologies.
One other important and defining feature of this national production, concerns the late use, within the European context, of engraved and embossed leather - exuberantly decorated with floral, foliage or heraldic motifs inspired by textile patterns but of sober monochromes - for the coating of seats and backs of chairs, settees and daybeds. This utilitarian, as well as decorative solution, endows Portuguese seating furniture from this period with unique and differentiated exoticism.
This Portuguese cabinet-making stylistic specificity will gradually loose its distinctiveness and defining character from the early second-third of the 18th century onwards, as a process of increasing assimilation of external models takes hold. The “National style”, differentiated and proudly assumed for most of the previous seventy years or so, will progressively give way to aesthetic references from French as well as English models - be it conspicuous guitar shaped chair backs “violonée” or vigorous baluster splats – that will merge, in each furniture piece, stylistic references from both productions while diluting any specifically Portuguese characteristics.
Important set of twelve D. João V / D. José transition period chairs, made in rich and deep orange-brown Brazilian rosewood timbers, with raised, undulating and pierced backs crowned by a masterly carved plumed crest, and with floral, foliage and shell embossed and engraved leather drop-in seats. The structure is assembled in the traditional “mortice and tenon” joint technique reinforced by pegs in the same timber.
The chair backs, almost excessively tall but opulent and elegant, outlined by “violonée” waved stiles diverging at the base - of Louis XV influence – and filled by robust baluster splats - in the English George II manner – are successful examples of the sophisticated stylistic hybridism characteristic of Portuguese furniture of the period, that was particularly evidenced in the numerous seating typologies.
The perfectly symmetrical top crest, carved and pierced in delicate floral and foliage scroll motifs, is centred by stylized Prince of Wales plumes. The drop-in undulating, trapezoid shaped seat, covered in engraved and embossed leather, fits onto an inner lip, cut into the seat rail that is reinforced by two front brackets of a less noble timber. An elegant but discreet low-relief foliage motif decorates the rail apron.
The cabriole front legs, of pronounced knees thinning at mid-height and ending on pad feet, and the robust back legs ending on rectangular plinths, are joined by carved undulating “H” shaped stretchers, and by a single turned back-stretcher with central nodule.
These exceptional set of twelve chairs, of which four feature minor differences relatively to the remaining eight, most certainly commissioned as a larger set, are excellent illustrative examples of the elegance and masterly characteristics of Portuguese furniture from the mid-18th century.
Bibliography:
— FREIRE, Fernanda Castro (Coord.), Mobiliário, Móveis de Assento e de Repouso, Vol. I, Lisboa, F.R.E.S.S., 2001, pp. 13 – 14, 18 – 22.
O mobiliário Português dos séculos XVII e XVIII distingue-se de imediato dos seus congéneres europeus pelo uso das madeiras tropicais - maciças, densas e duras - que nos chegavam com abundancia do Brasil. Estas madeiras, que dotam os móveis nacionais com os tons ricos de sombreados escuros que lhes conferem a sua característica riqueza cromática, permitem também o virtuosismo das formas ornamentais entalhadas que os marceneiros Portugueses tão bem souberam explorar, particularmente a partir de meados do séc. XVIII. Este virtuosismo decorativo atingirá o seu apogeu com a adoção e a transposição dos princípios estéticos do “rocaille” para a marcenaria.
Um outro elemento identitário específico do mobiliário de assento nacional relaciona-se com a utilização tardia, no contexto europeu, dos couros lavrados e gravados com exuberantes motivos florais, vegetalistas ou heráldicos, de inspiração têxtil e monocromia sóbria, para revestimento de assentos ou costas de cadeiras, canapés e preguiceiros. Este pormenor, simultaneamente utilitário e decorativo, incute nos nossos móveis um exotismo único e diferenciado.
A estas características acrescenta-se também o facto de, a partir do início do segundo-terço do séc. XVIII, se iniciar um processo de fusão de influências na produção marceneira Portuguesa, que irá perdendo as características que a distinguiram durante os cerca de 70 anos anteriores. Estas, que davam ao mobiliário nacional um cunho diferenciado e único, irão sendo progressivamente substituídas por referências estéticas de modelos Franceses, como as costas das cadeiras em forma de viola — “violonée” – e Ingleses – as tabelas recortadas em forma de balaústre — seus contemporâneos, frequentemente conjugando numa mesma peça referências de ambas as produções e diluindo as características especificamente Portuguesas.
Importantes cadeiras da época D. João V/D. José, em pau-santo de rico tom castanho alaranjado, de espaldar elevado, recortado e vazado, com cachaço decorado em delicada talha baixa e assento em couro lavrado e gravado com motivos vegetalistas e concheados. Os vários componentes estruturais são unidos pelo método tradicional de “respiga simples” reforçada por cavilhas da mesma madeira.
O espaldar, quase que excessivamente alto mas sumptuoso e elegante, com montantes curvilíneos com quebra ao nível da base, é caracterizado pelo seu formato de viola, de nítida influência Francesa da época Luís XV, e tabela central cheia e recortada em balaústre, de modelo Inglês, ilustrando claramente o hibridismo, bem conseguido, tão omnipresente nas peças de mobiliário Português desta época.
O cachaço, de grande simetria, é decorado com motivos rocaille finamente entalhados e vazados com enrolamentos vegetalistas, sobre grandes volutas dispostas em cartela com motivo de plumas estilizadas ao centro. O assento, de coxim em grade amovível de formato trapezoidal ondulado, é revestido a couro lavrado e gravado, assentando em rebaixo cortado para esse efeito na cintura da cadeira, e nos dois chapuzes frontais, cortados em madeira menos nobre. O saial com frente e ilhargas onduladas e recortadas é decorado ao centro com um discreto elemento vegetalista.
As pernas, as dianteiras curvas e de galbo pronunciado, adelgaçando a meio e terminando em pés de sapata, contrariamente às traseiras que assentam em soco retangular, unem-se por travessas em forma de “H” ondulante sendo a do tardoz torneada e interrompida por nódulo central.
Este raro conjunto de doze cadeiras, das quais quatro com mínimas diferenças de entalhamento relativamente às restantes oito, certamente encomendadas como um conjunto de maior número de peças, exibe a elegância e mestria na maneira de fazer tão característica dos móveis portugueses deste período.
Bibliografia
— FREIRE, Fernanda Castro (Coord.), Mobiliário, Móveis de Assento e de Repouso, Vol. I, Lisboa, F.R.E.S.S., 2001, pp. 13 –14, 18–22.
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