Gaveta - Escritório Indo-portuguesa , Índia, Taná, c. 1560-1630
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Provenance
Col. particular, Portugal.Gaveta-escritório Indo-portuguesa, executada provavelmente em Taná, de estrutura em teca (Tectona grandis), faixeada a ébano (Dyospirus ebenum) e marchetada a marfim e ébano.
Assente em pés torneados em forma de bola, esta rara gaveta-escritório é integralmente decorada em tapete, com padrão enxaquetado de triângulos em ébano, com cavilha de marfim e triângulos em marfim com cavilha de ébano, em todas as faces à excepção do fundo. Apresenta ferragens, vazadas e recortadas, de cobre dourado, incluindo cantoneiras, espelho da fechadura, dois puxadores em botão, e gualdras laterais produzidas por fundição.
Construída como uma caixa, apresenta uma gaveta única, com dois escaninhos abertos, à frente e à direita, para penas e outros instrumentos de escrita, bem como dois compartimentos mais pequenos, quadrangulares, para o areeiro e o tinteiro; todos estes elementos são à meia-altura, já que o escritório apresenta divisões inferiores de segredo. Na verdade, as faces laterias da gaveta dão acesso, em ambos os lados, a duas divisórias escondidas que correm em sentido oposto, cada uma com sua fechadura e a frente com emolduramento em ébano. Quando removidas, dão acesso, pelo lado, a duas de menores dimensões, de muito difícil perceção.
Este tipo de gaveta-escritório, replicando modelos europeus quinhentistas e seiscentistas, hoje muito raros, foi produzido para exportação com madeiras exóticas, resistentes e de grande efeito decorativo, nos diversos centros produtores de mobiliário da Índia Portuguesa, caso de Goa, Cochim e outras localidades ao longo da costa ocidental indiana.
Dado que a documentação portuguesa do século XVI refere a aldeia de Taná, que hoje faz parte da cidade de Mumbai (Bombaim) e na qual floresceu uma grande comunidade de artesãos muçulmanos, como a origem de preciosos móveis marchetados, é muito provável que esta gaveta-escritório aí tenha sido produzida, então parte da Província do Norte do Estado Português da Índia.[1]
Este contador pertence a um curioso grupo de raras peças do mobiliário mais recuado, fabricado para o mercado português e identificado apenas recentemente quanto à sua origem geográfica, às fontes decorativas de inspiração e ao contexto histórico de produção.[2]
Uma gaveta-escritório com esta forma (17,4 x 44,0 x 36,6 cm), de decoração vegetalista e produzida em Goa, pertence ao Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa (inv. 1670 Mov).[3]
[1] Sobre Taná durante o período português, veja-se Sidh Losa Mendiratta, “Two Towns and a Villa. Baçaim, Chaul and Taná: The Defensive Structure of Three Indo-Portuguese Settlements in Northern Province of the Estado da Índia”, in Yogesh Sharma, Pius Malenkandathil (eds.), Medieval Cities in India, Nova Delhi, Primus Books, 2014, pp. 805-814.
[2] Hugo Miguel Crespo, Choices, Lisboa, AR-PAB, 2016, pp. 136-171, cat. 15; e Hugo Miguel Crespo, A Índia em Portugal. Um Tempo de Confluências Artísticas (cat.), Porto, Bluebook, 2021, pp. 88-105.
[3] Publicada em Anísio Franco, “A Circulação de Modelos na Criação do Barroco Português”, in Anísio Franco et al. (eds.), Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português (cat.), Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga, 2015, pp. 112-122, ref. p. 118, cat. 41.
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