Prato de Aparato com armas Mascaranhas e Angûlo 'Decoração Geométrica'', 1600 – 1620
Prato em faiança portuguesa do início do século XVII, decorado a azul-cobalto sobre esmalte estanífero branco.
Centro definido por moldura em dodecágono preenchida por brasão com escudo esquartelado com as armas de Mascarenhas e Ângulo - 1º e 4º quartel de Mascarenhas, com três faixas paralelas e equidistantes; 2º/ e 3º armas da família Ângulo, com cinco arruelas ou besantes dispostos em sautor - sobrepujado de elmo e paquife, de profícuos enrolamentos vegetalistas.
A elaborada decoração da aba, que se prolonga pelo covo oprimindo a ornamentação central, é constituída por seis reservas de padrão geométrico, alternando trapézios com triângulos equiláteros, separados por colunelos. Completa o preenchimento das carlelas triangulares, uma forma idêntica embora escalena. Todos estes espaços estão inteiramente preenchidos com espirais e os separadores, grosseiramente quadrangulares, que os unem – colunelos – estão decorados com escamas e fita pendente terminada em modo de lágrima.
O verso da aba está ornado com nove reservas inscritas com linhas serpenteadas.
As características deste período reproduzem influências exógenas de vias decorativas específicas. Por um lado, a alusão à porcelana chinesa que se encontra na utilização do pigmento de cobalto, em várias gradações de azul e na decoração, sobretudo na aba onde os painéis trapezoidais, entre colunelos, sugerem a porcelana Kraak do período Wanli. Próprio da linguagem islamizante é o preenchimento obsessivo do espaço com padrões geométricos que oprimem a decoração central. Existem certos elementos decorativos comuns a estas vias de influência, como é o caso das “espirais” - por muitos consideradas como de origem mudéjar, mas que também se encontram na louça quinhentista de Iznik e na porcelana chinesa, durante o reinado ChengHua (1465-1485) e principalmente em peças Wucai do período Wanli e de Transição para a dinastia Qing (1620-1644).
Os pratos brasonados de aparato eram colocados com magnificência nos interiores e moradas nobres. Os titulares deste brasão de armas estão ligados à melhor aristocracia portuguesa e espanhola: os Mascarenhas estão relacionados com o Conselho Real de vários monarcas portugueses e com a Junta Governativa de Portugal durante a União Ibérica[1]; por outro lado, a família Ângulo, de origem espanhola e descendentes de ilustre linhagem, estão entroncados com membros da mais qualificada nobreza castelhana[2].
A raridade deste exuberante prato reside, não só na extrema qualidade dos materiais utilizados e no seu estado de conservação, mas também na relação entre a emblemática “primeira fase” de produção de louça Seiscentista portuguesa (Decoração Geométrica) e a época politica que lhe está subjacente, coincidindo com uma encomenda de certa nobreza que se exaltou durante o período da Monarquia Dual, entre Portugal e Espanha.
Teresa Peralta
[1] Cf. Real Academia de la Historia: https://dbe.rah.es/biografias/41240/francisco-de-mascarenhas; https://dbe.rah.es/busqueda?dbe=Mascarenhas
[2] Cf. Real Academia de la Historia: https://dbe.rah.es/biografias/40187/ludovico-angulo ; https://dbe.rah.es/busqueda?dbe=angulo
Join our mailing list
* denotes required fields
We will process the personal data you have supplied in accordance with our privacy policy (available on request). You can unsubscribe or change your preferences at any time by clicking the link in our emails.