Prato, séc. XVII
Prato de faiança portuguesa do século XVII, com covo pouco acentuado e aba levantada, decorado a azul-cobalto sobre esmalte estanífero.
No centro, circunscrito por filamento, uma paisagem de influência oriental onde se destaca a figura de majestoso fidalgo, que segura um ramo de flores. O aristocrata traja à moda cortesã ibérica, da primeira metade de Seiscentos, com roupeta skirted jerkin, certamente por cima de camisa de linho, gola rígida ou valona (walloon colar), calças e meias atadas por fita à altura do joelho, cobrindo a bainha das calças. Os sapatos são de couro e usa chapéu alto e manto. A ladeá-lo, à sua esquerda, um arbusto de camélias e, do outro lado, um de crisântemos.
A decoração da aba segue os modelos de porcelana chinesa de exportação Kraak: segmentação em seis reservas, alternadamente preenchidas por ramo de boninas estilizadas e corolas de camélias, envolvidas por cordões – que nos meados de Seiscentos irá dar à produção designada por “aranhões” (spiders) – separadas por secções de cordões duplos ou selos chineses.
No tardoz, a aba está dividida em seis campos com flores delineadas, centradas em cercaduras polilobadas, e separadas por duplos traços verticais.
Um dado relevante é a ornamentação da aba que se prolonga pelo covo num horror vacui comum à arte islâmica de raiz mudéjar, característica já implementada no início do século, colocando esta cronologia estilística na transição de “Decoração Geométrica” (1570-1620) para “Pré-Aranhões”, agora com o hibridismo de temas orientais e temas europeus.
A luxuriante representação deste prato é indicadora de amor nupcial reforçada pelo ramo de flores que a personagem transporta. No século XVII era comum a fidalguia demonstrar o seu afecto, ao cortejar a sua dama, através de gestos refinados, como sendo a oferta de flores, em encontros discretos, seja em jardins, ou noutros locais de convívio social, como festas ou eventos religiosos. Esse acto, de grande simbolismo, fazia parte das convenções sociais e culturais da época, influenciadas pelo amor cortês que ocorria das tradições medievais e renascentistas.
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