Placa de marfim "Fuga para o Egipto", Ceilão, séc. XVI / XVII
Placa de marfim esculpido em baixo relevo, que possui integrado, o próprio caixilho moldurado. Inserida numa moldura em ébano com incrustações em marfim, retratando o tema Bíblico da “Fuga para o Egipto”.
É uma composição erudita que retrata a Sagrada Família, tendo como tema essencial Nossa Senhora com o Menino Jesus ao colo, os dois com auréola, sob o olhar atento de S. José. Nossa Senhora amamenta o Menino Jesus, um tema raramente tratado. Como elementos secundários o tradicional burrinho, que leva na sela o cantil e a bolsa do dinheiro e uma frondosa palmeira cujo fruto- a tâmara virá a ser o fruto preferido de Jesus. S. José enverga a sua túnica, botas, trajo e chapéu, apoiando-se num bordão. A imagem conserva restos de discreta policromia.
Moldura em ébano toda preenchida com incrustações de marfim. Dos lados, decoração simétrica com duas ânforas de onde saem frisos com motivos vegetalistas e onde pousam aves fantásticas. Na base a ave imperial- o pavão de cauda aberta, ladeado por aves e ramos estilizados. No topo da moldura dois querubins afrontados pairando nas nuvens e mostrando a coroa do Menino Jesus futuro Rei Salvador.
A imaginária luso-cingalesa, muito claramente caracterizada por Francisco Hipólito Raposo, trabalha as figuras religiosas de uma maneira delicada e precisa, em que a face tem uma configuração afilada, com olhos mais amendoados e expressivos, narizes finos, de abas apertadas e de linha vagamente adunca. As bocas são finas e pequenas.
A origem das placas, dada a sua pequena dimensão, era a de catequisar e de servir o culto público em igrejas e capelas, podendo ser facilmente transportadas pelos missionários. Constituíam portanto elementos fundamentais nas Missões Cristãs na Ásia, por nelas estarem implícita uma forte componente didáctica. Por vezes juntavam-se para formar pequenos oratórios ou até retábulos. É por essa razão que, provavelmente, o seu emolduramento seja posterior à sua feitura.
É uma das placas ebúrneas mais europeizada, em que o artificie se mostra familiarizado com as técnicas e a estética que os Portugueses levaram para a Índia. Os modelos eram quase sempre gravuras italianas que corriam ao tempo, em todo o Oriente, levadas pelos missionários e a execução desta placa denota a adopção do figurino pictural do maneirismo romano. De facto este tema iconográfico foi pintado por Federico Zuccaro, que se tornou famoso por ser pintor de frescos (na sala principal do Vaticano), num estilo baseado e influenciado por Miguel Ângelo e Rafael. Fundou a Academia de San Luca, em Roma (1542-1609) e trabalhou para os Papas: Papa Júlio III e Papa Paulo IV.
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