Armário (dressoir)

Cabinet (dressoir)
India, probably Sind (present-day Pakistan); ca. 1580-1630
Teak, ebony, ivory, exotic wood, green-dyed bone and iron; gilt copper fittings
Dim: 182.0 x 97.0 x 61.0 cm

Armário (dressoir)
Índia, provavelmente Sinde (actual Paquistão); ca. 1580-1630
Teca, ébano, marfim, madeira exótica, osso tingido de verde e ferro; ferragens de cobre dourado
Dim: 182,0 x 97,0 x 61,0 cm

This cabinet, made from teak (Tectona grandis), is thickly veneered in ebony (Diospyros ebenum) and lavishly decorated with ivory inlays and micro-mosaic (sadeli); it is divided into three sections. The two lower sections are in one single, joined piece, while the open baldachin-shaped upper section is detachable, with four turned columns resting on gilt copper collets crowning the uprights on the corners of the middle and lower sections. This heavy, sturdy cabinet rests on four solid ebony feet carved in the shape of a crouched dragon, with eyes inlaid in ivory and decorated with gilt copper dome-shaped studs. Used to great effect throughout, highlighting its surfaces, these hemispherical studs complement the cabinet’s gilt copper fittings, which include corner brackets, side handles, hinges, escutcheon-shaped pierced openwork lock plates, and drawer pulls. The upper section was used for showcasing display silver as a dresser (from the French dressoir) or a buffet - a sideboard for the displaying cups and dishes featuring a high back or an overhanging canopy. The two-door middle section would be used to store valuables and documents, while the lower section served to store fine table linens and other precious textiles.
The lower section is a chest fitted with two large drawers, mimicking four, decorated on the fronts with oblong Timurid-style cartouches featuring ebony borders highlighted with ivory fillets. The middle section is fitted with two doors, each decorated with Timurid-style star-shaped polylobed ebony medallions on particularly beautiful figured or curly grain of teak wood, similarly highlighted with thin ivory fillets. The doors open to reveal twelve drawers, mimicking sixteen arranged in four tiers. The fronts of the drawers are richly decorated with oval-shaped medallions in sadeli, bordered by a frieze of contrasting triangles in exotic wood and ivory. The interior sides of the doors follow a carpet-like arrangement boasting a central field with a large circular medallion and an Islamic-type eight-pointed star featuring a complex star pattern of finely-made sadeli. This large micro-mosaic star contrasts with the dark ebony ground, decorated with vegetal scrolls of coma-shaped leaves. The corners of the central field are similarly decorated with vegetal scrolls and star-like sadeli motifs. The central field is bordered by a narrow frieze of triangles in alternating colours and a wide border of vegetal scrolls dotted with small sadeli circles. The square overhanging canopy or baldachin-shaped upper section comprises four turned ebony columns on the corners, a rear board decorated on the front with two facing large oval-shaped polylobate Timurid-style cartouches in ebony over the teak ground highlighted in ivory, and the multi-arched cornice on top in ebony similarly accentuated with ivory fillets and large gilt copper studs. While the back is in plain, undecorated teak of fine quality, the sides are decorated en suite with the middle and lower sections, boasting elegant Timurid-style cartouches.
Following a European prototype, this large cabinet was made for a wealthy aristocratic household, reminiscent of contemporary opulent ebony, marquetry or pietre dure (hardstones) cabinets made at the most affluent courts of Europe. Bridging Western furniture types with local, highly elaborate decorative techniques and costly exotic materials, this cabinet epitomises the refined taste of the Portuguese clientele that commissioned it. Based on furniture types, preferred materials, and Iranian-derived decorative techniques such as the time-consuming sadeli, this elegant and sombre production, when compared with furniture made for export in Gujarat, has recently been attributed to Thatta in Sind (present-day Pakistan). Examples of such large pieces of furniture made for export in the western coastal centres of India are exceptionally rare. A decade ago, a single identical and similarly decorated cabinet (181.0 x 90.0 x 64.0 cm) was published, differing solely in the decoration of the inner drawers and the later sledge-form feet. The present cabinet, a magnificent example of export furniture made in India under Portuguese patronage, adorned until recently the Casa do Costeado in São Miguel de Creixomil, Guimarães - a manor house in the north of Portugal built in the late eighteenth century on an estate documented since the late sixteenth century.

Hugo Miguel Crespo
Centre for History, University of Lisbon

Bibliography:

Pedro Dias, Mobiliário Indo-Português, Moreira de Cónegos, Imaginalis, 2013

Hugo Miguel Crespo, India in Portugal. A Time of Artistic Confluence (cat.), Porto, Blueboo

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Este armário, em teca (Tectona grandis) faixeado a ébano (Diospyros ebenum) e ricamente decorado com embutidos de marfim e micro-mosaico (sadeli), apresenta três secções ou corpos. As duas secções inferiores constituem peça única, enquanto a parte superior aberta e em baldaquino, com quatro colunas torneadas encaixadas em virolas de cobre dourado que coroam os montantes dos cantos das secções média e inferior, é desmontável. Este armário, pesado e robusto, repousa sobre quatro pés de ébano entalhados em forma de dragão agachado, com olhos embutidos em marfim e decorados com tachas de cobre dourado. Usadas com grande efeito, decorando todas as superfícies, estas tachas hemisféricas complementam as ferragens de cobre dourado do armário, que incluem cantoneiras, pegas laterais ou gualdras, dobradiças, espelhos de fechadura em forma de escudete, recortados e vazados, e os puxadores das gavetas. A parte superior serviria para expor prataria de aparato como um dressoir - um aparador para exposição de salvas e pratos, com tardoz alto e dossel saliente. A secção central com duas portas como contador seria usada para guardar objectos de valor e documentos, enquanto a secção inferior serviria para guardar toalhas de mesa finas e outros tecidos preciosos.
A parte inferior, como uma cómoda, apresenta duas grandes gavetas, simulando quatro, decoradas nas frentes com cartelas oblongas de estilo timúrida e cercaduras em ébano avivadas por filetes de marfim. O corpo central apresenta duas portas, cada uma decorada com medalhões de ébano polilobados em forma de estrela, de estilo timúrida, sobre fundo de madeira de teca figurada, de grão revolto, igualmente avivados com finos filetes de marfim. Quando aberto, apresenta doze gavetas simulando dezasseis dispostas em quatro renques. As frentes das gavetas são ricamente decoradas com medalhões ovais em sadeli, delimitados por friso de triângulos contrastantes em madeira exótica e marfim. A decoração das faces internas das portas é em tapete, tendo no campo central um grande medalhão circular e estrela de oito pontas ao gosto islâmico, preenchida por complexo padrão estrelado em fino sadeli. Esta grande estrela de micro-mosaico contrasta com o fundo de ébano escuro, decorado com enrolamentos vegetalistas e folhas em forma de vírgula. Os cantos do campo central são igualmente decorados com enrolamentos vegetalistas e motivos em sadeli na forma de estrela. O campo central é delimitado por estreito friso de triângulos em cores alternadas e larga cercadura de enrolamentos vegetalistas pontuada por pequenos círculos de sadeli. O dossel quadrado ou secção superior em forma de baldaquino consiste em quatro colunas de ébano torneadas dispostas nos cantos, um tardoz decorado na frente com duas grandes cartelas ovais polilobadas de estilo timúrida em ébano sobre fundo de teca avivado em marfim, e a cornija de arcarias no topo em ébano igualmente avivada a marfim e pontuda por grandes tachas de cobre dourado. Enquanto o exterior do tardoz é em teca lisa, sem decoração, e de excelente qualidade, as ilhargas são decoradas tal como os corpos inferiores, com belas cartelas de estilo timúrida.
Replicando protótipo europeu, este grande armário destinava-se a uma família aristocrática abastada, sendo reminiscente dos opulentos armários coevos de ébano, marchetaria ou pietre dure (pedras duras) produzidos nas cortes mais ricas da Europa. Conjugando tipologias de mobiliário ocidental com complexas técnicas decorativas locais e materiais exóticos dispendiosos, este armário exprime na perfeição o gosto requintado da clientela portuguesa que o encomendou. Com base nas tipologias mais frequentes, materiais preferidos e técnicas decorativas de origem iraniana, como o fastidioso sadeli, esta produção elegante e mais sóbria quando comparada com o mobiliário guzarate para exportação, foi recentemente atribuída a Thatta no Sinde (actual Paquistão). Exemplares de tão grande dimensão produzidos para exportação nos centros costeiros do noroeste da Índia são muito raros. Refira-se um único exemplar idêntico e com semelhante decoração (181,0 x 90,0 x 64,0 cm), diferindo apenas na decoração das gavetas internas e dos pés em patim posteriores, publicado há já uma década atrás. Este nosso armário, magnífico exemplar do mobiliário para exportação produzido na Índia sob encomenda lusa, decorava até data recente a Casa do Costeado em São Miguel de Creixomil, Guimarães - um solar no norte de Portugal construído nos finais do século XVIII numa propriedade documentada desde o final do século XVI.
Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa

Bibliografia:

Pedro Dias, Mobiliário Indo-Português, Moreira de Cónegos, Imaginalis, 2013

Hugo Miguel Crespo, A Índia em Portugal. Um Tempo de Confluências Artísticas (cat.), Porto, Bluebook, 2021

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  • Artes Decorativas
  • Mobiliário

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