Cofre

Nº de referência da peça: 
F1302

Casket
India, Gujarat; and probably Lisbon (silver mounts)
2nd-half, 16th century
Teak, mother-of-pearl and brass; silver
Dim.: 19,5 x 33,6 x 20,7 cm

Cofre
Índia, Guzarate; e provavelmente Lisboa (montagens)
Século XVI (segunda metade)
Teca, madrepérola, e latão; montagens de prata
Dim.: 19,5 x 33,6 x 20,7 cm

Este cofre de corpo paralelepipédico e tampa tronco-piramidal (em telhado de quatro águas e topo plano) de madeira exótica, provavelmente teca (Tectona grandis) é revestido no mosaico de madrepérola (da concha do gastrópode marinho Turbo marmoratus) fixo à estrutura de madeira com pinos de latão.
Assente em soco alteado em quatro pés recortados - replicando na perfeição o seu protótipo extremo-oriental - apresenta um complexo padrão no recorte das tesselas, perfazendo painéis imbrincados bordejados por cercaduras lisas, que conferem uma variação cromática muito expressiva.
A mesma simplicidade encontramos num cofre com a mesma forma, embora mais pequeno (15,6 x 24,0 x 15,5 cm) da colecção do arquiduque Ferdinand II do Tirol (1529-1595) e registado no seu inventário post mortem de 1596, e hoje exposto no seu Schloss Ambras, Innsbruck (inv. PA 861).
O presente cofre apresenta montagens em prata sóbrias, provavelmente portuguesas e talvez acrescentadas já em Lisboa consistindo numa fechadura em forma de escudete com lingueta decorada por lagarto estilizado, uma alça no topo e duas dobradiças recortadas em flor-de-lis no tardoz.
A origem indiana desta produção, em concreto de Cambaia e Surat, no actual estado do Guzarate, no norte da Índia é, desde há várias décadas, plenamente aceite e comprovada, tanto do ponto de vista documental e literário - por descrições, relatos de viajantes e documentação de arquivo da época - como pela sobrevivência in situ de estruturas de madeira cobertas por tesselas de madrepérola.
Tal é o caso do baldaquino do túmulo do santo sufi, Sheikh Salim Chisthi (1478-1572) em Fatehpur Sikri no distrito de Agra no norte da Índia. Trata-se de uma produção de cariz geométrico e âmbito islâmico onde, por vezes, as tesselas de madrepérola desenham complexas composições de escamas ou, à semelhança dos pratos também realizados com a mesma técnica, usam fina chapa de latão e pinos do mesmo metal, de flores-de-lótus estilizadas.
A forma do nosso exemplar, de tampa tronco-piramidal, corresponde - como acontece com os congéneres realizados na mesma época em tartaruga no Guzarate - a uma tipologia em uso no subcontinente indiano de âmbito islâmico, anterior à chegada dos primeiros portugueses. Trata-se, na verdade, de uma tipologia antiga e extremo-oriental de cofre ou arqueta utilizada para proteger os textos sagrados do Budismo, os sutras.

Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa

Bibliografia:

CRESPO, Hugo Miguel, Jóias da Carreira da Índia (cat.), Lisboa, Fundação Oriente, 2014.

CRESPO, Hugo Miguel, A Índia em Portugal. Um Tempo de Confluências Artísticas (cat.), Porto, Bluebook, 2021.

FELGUEIRAS, José Jordão, “Uma Família de Objectos Preciosos do Guzarate”, in Nuno Vassallo e Silva (ed.), A Herança de Rauluchantim (cat.), Lisboa, Museu de S. Roque - Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1996, pp. 128-155.

FERRÃO, Bernardo, Mobiliário Português. Dos Primórdios ao Maneirismo, Vol. 3, Porto, Lello & Irmão Editores, 1990.

SANGL, Sigrid, “Brilho mágico e origem exótica. Objectos em madrepérola da Índia quinhentista e seiscentista”, in Francisco António Clode Sousa; Teresa Azeredo Pais (eds.), Um Olhar do Porto. Uma Colecção de Artes Decorativas (cat.), Funchal, Quinta das Cruzes - Museu, 2005, pp. 23-27.

SEIPEL, Wilfried Seipel (ed.), Exotica. Portugals Entdeckungen im Spiegel fürstlicher Kunst- und Wunderkammernder Renaissance (cat.), Wien - Milano, Kunsthistorisches Museum - Skira, 2000.

Casket
India, Gujarat; and probably Lisbon (silver mounts)
2nd-half, 16th century
Teak, mother-of-pearl and brass; silver
Dim.: 19,5 x 33,6 x 20,7 cm
F1302

Rectangular Gujarati casket with truncated four-sided pyramidal lid. Of exotic timber carcass, probably teak (Tectona grandis), the casket is fully coated in mother-of-pearl tesserae cut from Turbo marmoratus shell, a marine gastropod known as green turban sea snail, fixed to the structure with brass pins. The box, resting on a four footed socle, following a far-eastern prototype, is decorated in a complex pattern of fish scale-like panels framed by plain borders.
Such patterns, albeit sometimes crudely fashioned, highlight considerably the chromatic variations of the mother-of-pearl selected for this type of production. This same decorative restraint can be found on another casket, smaller in size but of identical shape (15,6 x 24,0 x 15,5 cm), recorded in the post mortem inventory of the estate of Archduke Ferdinand II of Tyrol (1529-1595), now displayed at Schloss Ambras, Innsbruck (inv. PA 861). Additionally, the casket is set with silver mounts, most likely made in Portugal and fitted in Lisbon, consisting of escutcheon shaped lock plate, stylised lizard latch, top handle and fleur-de-lis shaped hinges.

The Indian origin of this production, namely from Cambay and Surat in present day State of Gujarat, in North-western India, has been consensual for some decades, and certified by documental and literary evidence – descriptive texts, travelogues and contemporary archival sources – as well as by in-situ survival of 16th century wooden structures coated in mother-of-pearl tesserae. As a particularly illustrative example of one such structure we would refer the decorative canopy from the tomb of Sufi Saint Sheik Salim Chisti (1478-1572), at Fatehpur Sikri in the Agra district of northern India.
Geometric in character and Islamic in nature, the extant group of analogous objects to which this casket belongs, is sometimes defined by the complex compositions of fish scale or, similarly to plates made using identical technique but pinned to a thin brass sheet, stylised lotus flower shaped tesserae.
The shape of the example herewith described, of truncated pyramidal lid, corresponds - as is also the case with similar contemporary tortoiseshell caskets from the same origin – to a typology known in the Indian subcontinent Islamic context, prior to the arrival of the Portuguese. It is, in fact, an ancient type of Far-Eastern casket or chest, whose purpose was to store and protect the Sutra, the Buddhism Holy texts.

Hugo Miguel Crespo
Centre for History, University of Lisbon

Bibliography:

CRESPO, Hugo Miguel, Jewels from the India Run (cat.), Lisboa, Fundação Oriente, 2015.

FELGUEIRAS, José Jordão, “A Family of Precious Gujurati Works”, in Nuno Vassallo e Silva (ed.), The Heritage of Rauluchantim (cat.), Lisboa, Museu de S. Roque - Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1996, pp. 128-155.

FERRÃO, Bernardo, Mobiliário Português. Dos Primórdios ao Maneirismo, Vol. 3, Porto, Lello & Irmão Editores, 1990.

SANGL, Sigrid, “Brilho mágico e origem exótica. Objectos em madrepérola da Índia quinhentista e seiscentista”, in Francisco António Clode Sousa; Teresa Azeredo Pais (eds.), Um Olhar do Porto. Uma Colecção de Artes Decorativas (cat.), Funchal, Quinta das Cruzes - Museu, 2005, pp. 23-27.

SEIPEL, Wilfried Seipel (ed.), Exotica. Portugals Entdeckungen im Spiegel fürstlicher Kunst- und Wunderkammernder Renaissance (cat.), Wien - Milano, Kunsthistorisches Museum - Skira, 2000

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Marfim, Tartaruga e Madrepérola

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