Contador de mesa ou estrado
Tabletop or dais cabinet
Portuguese State of India Northern Province, Thane or Mumbai, late-16th c.
Teak, ebony, sissoo, ivory and dyed bone; gilt copper hardware | 25 x 43.5 x 32.5 cm
Prov.: José Ferreira, Oporto
Contador de mesa ou estrado
Teca, ébano, sissó, marfim e osso tingido de verde; ferragens de cobre dourado
Província do Norte do Estado Português da Índia, Taná ou Bombaim, século XVI (finais)
Dim.: 25,0 x 43,5 x 32,5 cm
F1343
The present table cabinet or for the dais, made from teak (Tectona grandis) and thickly veneered with ebony (Dyospirus ebenum) is decorated with East Indian rosewood (Dalbergia latifolia), teak, ivory and green-dyed bone inlays all pinned with small brass pins, resulting in a sumptuous work of marquetry. It is modelled after a European prototype that ranked among the most prestigious pieces of storage furniture in the sixteenth century. The cabinet features four drawers mimicking six, set in two tiers; the top drawer being long enough to store paper and valuable documents, and the three lower drawers of smaller size probably for jewels and other small valuables. All the drawers are set with individual locks, four of which gave access to what was kept inside. The gilded copper fittings comprise eight corner brackets, two side handles and six pierced, openwork escutcheons, a decoration which would become typical of later Goan furniture production. The cabinet is further decorated with large dome-shaped gilded copper nails framing the drawers and the outer edges of the front. Added later, probably in the eighteenth century, the cabinet raises on four cast and gilded copper alloy lion paw feet.
The rich marquetry decoration consists of symmetrical floral designs on the fronts of the drawers, with stylised flowers and leaves. The richness of the decoration derives from the use of inlays made from different exotic woods, such as Indian rosewood, teak, alongside ivory and bone dyed in green, over the dark background of ebony. The sides and back feature a carpet-like composition; the central field with flowering plants set in symmetry, surrounded by a narrow border of eight-petaled rosettes alternating teak and ivory. The top, also featuring a carpet-like composition albeit with a wide border of similar flowering plants, feature a pattern of isometric cubes on the diminutive central field, alternating rosewood, ivory and bone dyed in green.
This type of luxurious furniture was prevalent in the interior furnishings of European noble and patrician households and portable writing and table cabinets of this type were a basic requirement of European officials, merchants and traders living and travelling in Asia. Small and precious, these were made in Asia with exotic and expensive materials and much admired and avidly sought after in Europe due not only to their appealing design but also to their technical perfection. Given that sixteenth-century Portuguese records mention the village of Taná, or Thane - today part of the city of Mumbai (Bombay) -, in which flourished a large community of Muslim craftsmen, as the origin for precious marquetry furniture, it is highly probable that the centre of production of this table cabinet is precisely Thane, then part of the Northern Province of the Portuguese State of India. The present table cabinet or for the dais belongs to an exceptional group of rare, early furniture made for the Portuguese market which was only recently identified in regard to its geographical origin, decorative sources of inspiration (Iranian, Ottoman, and European) and historical context of production.
Hugo Miguel Crespo
Centre for History, University of Lisbon
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O presente contador de mesa ou estrado, de estrutura em madeira de teca (Tectona grandis), é ricamente faixeado a ébano (Dyospirus ebenum) e decorado com embutidos de sissó (Dalbergia latifolia), teca, marfim, e osso tingido de verde, todos fixos por pequenos pinos de latão resultando numa sumptuosa obra de marchetaria. Replica, quanto à forma, um protótipo europeu, tido como dos mais apreciados móveis de conter no século XVI.
O contador apresenta quatro gavetas simulando seis, dispostas em duas fiadas; a superior com uma grande gaveta sobre o comprido, para guardar papel e documentos de valor, e as três inferiores mais pequenas, provavelmente para jóias e outros pequenos objectos valiosos. Todas as gavetas apresentam seu escudete individual, quatro das fechaduras dando acesso ao que aí estaria guardado.
As ferragens de cobre dourado incluem oito cantoneiras, duas gualdras laterais e seis espelhos de fechadura recortados e vazados, uma decoração que se tornaria típica da produção posterior o mobiliário de Goa.
O contador é ainda decorado com pregaria de cobre dourado de cabeça hemisférica nos entrepanos das gavetas e nas arestas da frente. De adição posterior, provavelmente já do século XVIII, apresenta quatro pés de garra de leão sobre bola, em liga de cobre dourado produzidos por fundição.
A copiosa decoração marchetada consiste em motivos florais simetricamente dispostos nas frentes das gavetas, com flores e folhas estilizadas. A riqueza da decoração advém do uso de embutidos de diferentes madeiras exóticas como sissó, teca, e também marfim e osso tingido de verde, sobre o fundo escuro do ébano.
As ilhargas e tardoz apresentam composição em tapete, com o largo campo central preenchido por plantas floridas dispostas em simetria, bordejado por cercadura de rosetas de oito pétalas alternando teca e marfim. O topo, também em tapete mas com larga cercadura dos mesmo elementos floridos que surgem nas frentes das gavetas, apresenta no diminuto campo central o padrão de cubos isométricos, alternando sissó, marfim e osso tingido de verde.
Imprescindíveis no mobiliário interior das residências nobres e patrícias da Europa, escritórios e contadores de mesa portáteis deste tipo tornar-se-iam requisito fundamental para funcionários, mercadores e comerciantes europeus que viviam e viajavam pela Ásia.
De pequenas dimensões, foram produzidos na Ásia com materiais exóticos e dispendiosos, sendo muito admirados e avidamente procurados na Europa, devido não só à sua forma, mas também à sua perfeição técnica.
Dado que a documentação portuguesa do século XVI refere a aldeia de Taná, ou Thane - hoje parte da cidade de Mumbai (Bombaim) -, na qual floresceu uma grande comunidade de artesãos muçulmanos, como origem de preciosos móveis marchetados, é muito provável que o centro de produção deste contador de mesa seja precisamente Taná, então parte da Província do Norte do Estado Português da Índia.
Este contador de mesa ou estrado pertence a um curioso grupo de raras peças do mobiliário mais recuado fabricado para o mercado português e identificado apenas recentemente quanto à sua origem geográfica, fontes decorativas de inspiração (iranianas, otomanas e europeias) e contexto histórico de produção.
Hugo Miguel Crespo
Centro de História, Universidade de Lisboa
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