Escritório Namban
Writing box
Japanese cedar, lacquer, mother-of-pearl, gold and gilt copper
Momoyama / Edo Period (1600-1630)
Dim.: 24.0 x 31.0 x 23.0 cm
Provenance: C.P., Portugal
Escritório
Cedro do Japão, laca, madrepérola, ouro e cobre dourado
Período Momoyama a Edo (1600-1630)
Dim.: 24 x 31 x 23 cm
Prov.: C.P., Portugal
Small sized, Japanese cedar (Cryptomeria japonica) namban fall front cabinet. Of parallelepiped design and eight inner drawers, it has been dated, based on its ornamental characteristics, to the first quarter of the 17th century.
Black lacquered (urushi-e) and of evident European prototype, it is decorated in hira-maqui-e with inlaid mother-of-pearl (raden), two techniques that are typical of namban period (1573-1639) Japanese export lacquers. The metal fittings, handles, corner pieces and lock escutcheons, are gilt copper.
In terms of the cabinet’s decorative motifs, reflecting ancestral practices from Japanese traditional arts, they are defined by geometric and botanical elements in various patterns covering the entirety of its outer surfaces.
The frontal, lateral and upper panels are profusely ornamented with two types of geometric motifs. In the large central ground, encased by double mother-of-pearl filleting, the Japanese seven jewels decorative pattern, imported from China. According to the Indian tradition, this motif is related to the Great Universal Monarch, Chakravarty, and to the Master of the Sacred Domains, Siddhartha Gautama Buddha. In Japan it is also associated to the Seven Gods of Fortune and known as shippomon. Framing this central composition, a wide mother-of-pearl and maki-e band, filled by ichimatsu, a repeating pattern of juxtaposed squares, alternating mother-of-pearl and painted stylized hemp flowers, alluding to vows of prosperity for one’s descendants and good luck in business.
Lowering the fall-front exposes a group of drawers centred by a lockable rectangular compartment, whose front is decorated by an arch resting on a pair of classical European style columns, and gentian flowers (Rindo). On the drawer faces, large Paulownia foliage scrolls, trimmed by single mother-of-pearl thread, and framed by the Uroko pattern representative of fish scales, a motif often used by Samurai as an amulet against evil.
From the exposed inner writing surface and rear panel, stands out a large Paulownia foliage scroll, encased by continuous mother-of-pearl frame and wide band of motifs analogous to seven jewels.
For its specificities, this writing box is an excellent example of the syncretism that developed, between the late 16th and the first quarter of the 17th century, from the meeting of western and Japanese cultures, evidence clearly illustrated by its European shape and traditional Japanese art ornamentation allusive to autochthonous popular traditions, to Buddhism and to Shintoism.
Considering its rare format, this writing box could be one of the last objects made for exporting before the Sakoku, the “Closure of Country” period, in which only the Dutch were allowed to remain in Japan, and even so circumscribed to the small island of Dejima, off the coast of Nagasaki, all the other foreign merchants having been expelled.
Bernardo Morais dos Santos
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Escritório Namban de pequenas dimensões, com formato paralelepipédico e secção quadrada, tampo de abater e oito gavetas, executado em madeira de cedro do Japão (Cryptomeria japonica), que datamos do primeiro quartel do século dezassete, atendendo aos motivos que o decoram.
Lacado a negro (urushi-e) e de forma claramente europeia, encontra-se ornamentado a hira-maqui-e com incrustações de madrepérola (raden), duas técnicas características das lacas de exportação japonesas do período Namban (1573-1639) . As montagens, tanto das pegas e das cantoneiras, assim como dos espelhos das fechaduras, são em cobre dourado.
Os motivos decorativos fazem uso destas práticas milenares da arte tradicional japonesa e caracterizam-se pelo uso de formas geométricas e vegetalistas, com diferentes padrões que revestem o exterior desta peça.
O exterior do tampo, as faces laterais e a superior encontram-se profusamente decoradas com dois tipos de ornamento geométrico. Ao centro, limitado por duplo filete de madrepérola, encontra-se o padrão das sete jóias, trazido para o Japão via China. De acordo com a tradição indiana, este motivo está relacionado com o grande rei do mundo Chakravartin e mestre dos domínios sagrados, Sidharta Gautama Buda. No Japão está também associado aos sete deuses da fortuna, sendo denominado de shippomon.
Uma banda larga em madrepérola e maki-e emoldura o quadro, preenchida por motivo que ficou conhecido por Ichimatsu, caracterizado por quadrados justapostos, alternando placa de madrepérola com pintura de flor de cânhamo estilizada, voto de prosperidade para os descendentes e sucesso nos negócios.
Rebatendo o tampo, deparamo-nos com o conjunto de gavetas centradas num compartimento central retangular com fechadura, decorado com um arco que assenta sobre par de colunas, de estilo europeu clássico e a flor de Gentiana (Rindo). As frentes das gavetas estão adornadas com grandes enrolamentos de folhagem de Paulónia, rematados por filete único de madrepérola e enquadradas por padrão, designado de Uroko, representativo das escamas de peixe, motivo muitas vezes usado pelos Samurai como um talismã contra o mal.
No interior do tampo de abater e no tardoz do móvel, destaca-se um grande enrolamento de folhas da árvore de Paulónia, separado por um filete contínuo de madrepérola, de uma cercadura larga com reminiscência do padrão das sete jóias.
Esta peça é um exemplo do sincretismo que se foi desenvolvendo, entre o final do século dezasseis e o primeiro terço do dezassete, entre a cultura ocidental e a cultura nipónica, atendendo ao formato europeu e à ornamentação com motivos tradicionais da arte japonesa, representativos do seu folclore e das religiões Budista e Xintoísta.
Pelo seu raro formato, poderá ser uma das últimas peças que foram executadas para o mercado de exportação antes do início do Sakoku, período em que os japoneses permitiram apenas a permanência dos holandeses na pequena ilha de Deshima, ao largo de Nagasaki, expulsando todos os outros mercadores estrangeiros.
Bernardo Morais dos Santos
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