Prato Covo

Nº de referência da peça: 
C669

Faiança portuguesa “Decoração Geométrica”
Lisboa, 1600-1620
Diam.: 29,0 cm
Prov.: Coleção particular, Inglaterra

DEEP PLATE
Portuguese faience "Geometric Decoration”
Lisbon, 1600-1620
Diam.: 29,0 cm
Prov.: P.C., England

A Lisbon made, early 17th century faience plate of cobalt-blue painted decoration on a pure lead-white glaze ground.
Centrally placed, an elegant gourd encircled by spiralled lines within a square filleted frame, from which evolves a decorative composition of Islamic style geometric motifs extending from the well to the plate rim.
The elaborate lip ornamentation is defined by four symmetrical circular and equidistant circles centred by geometric flowers and encased by isosceles quadrangles whose base corresponds to a side of the central square. These quadrilaterals are filled by sequences of trapezoids of parallel lines. The floral circles alternate with equal number of lobate, spiral filled arches on reticulated grounds, which extend over the well finishing at the central square apexes. On the reverse a sequence of eighteen sections with inscribed “Ss” that replicates, albeit rudimentary, a practice often seen in contemporary Chinese porcelain plates.
This type of decorative pattern, typical of the period known as “Geometric Decoration”, combines characteristics taken from the Chinese porcelain arriving at the Portuguese ports from the Eastern trade, with the Islamic decorative grammar with which the Lisbon potters were acquainted via the Spanish and Italian ceramics, particularly those from Montelupo and Venice.
A decorative detail specific to this national artistic “Islamization” relates to the obsessive filling of the object’s surfaces - the horror vacui - with small loose elements encased in, often asymmetric, cartouches of various shapes. These are often arranged in complex compositions that, as well as filling the plates lips, extend over the wells in an evident oppression of the central motifs. From amongst these stand out the spirals, grouped in pseudo-geometric frames, which are common motifs in Portuguese ceramics dating from the later 15th and early 16th centuries.
In addition to the blue and white colours of the Chinese porcelain, Portuguese faience of this period assimilates the Chinese decorative grammar that the Lisbon potters mimicked, without understanding their associated symbolic meanings. Such is the case with the gourd featured in the centre of our plate. A motif often adopted in porcelain dating from Emperor Jiajing reign (1521-1567), it corresponds to the attribute of Li Tieguai, one of the eight Taoist immortals. The gourd contained all the magical potions that fend bad spirits and illness, hence being strongly connoted with longevity. For the Portuguese artists that copied this particular iconographical detail however, it has a purely decorative meaning, going even further by wrapping it in a spiral that alludes to the ribbons that adorned Chinese precious objects.
The chronology attributed to this production – 1600-1620 – is supported by affinities with pieces originating from contextualised archaeological finds, not only in Portugal but in other European countries, such as in Holland, the British Isles or the formed Hanseatic League territories. When confronted with others of identical dating and origin, faience deposits unearthed in these regions reveal evident and close decorative affinities. Relevant examples from this period were exposed from stratigraphic contexts dated 1580-1620 , at Deventer and Dordrecht, in the Netherlands, as well as in Amsterdam´s Waterlooplein area, from contexts dating from 1600-1620 . Other specimens of identical decoration have also been found at Carrickfergus in Ireland, as well as at St. James’s Passage in London, in deposition contexts dated to no later than 1620 .
The rarity of this particular plate resides in the quality of the paste selected for its making, in the exceptional preservation of the lead-white glaze and in the sophisticated and intense cobalt-blue decorative composition. In addition to the former, its English provenance evidences and highlights the desirability of the Lisbon produced faience which, in its heyday, crossed not only borders but also chronologies.

Raríssimo prato de faiança portuguesa dos inícios do século XVII proveniente das olarias de Lisboa, ornamentado com vibrante pintura a azul-cobalto sobre o esmalte estanífero branco.
O fundo está centrado em uma cabaça, envolta numa linha serpenteada e inserida em moldura quadrada de filetes livres a partir do qual se desenvolve uma decoração com elementos geométricos de cariz islâmico, que se estende pelo covo até ao bordo.
A decoração da aba é bastante elaborada e está dividida em quatro reservas circulares, equidistantes, com flor geometrizada ao centro, semi-circundadas por trapézio de feição isósceles - que se prolonga pelo covo do prato e cuja base é um dos lados do quadrado central - preenchido por quatro trapezoides ocupados por riscos paralelos. Por sua vez, os círculos alternam com o mesmo número de cartelas - em forma de arcos polilobados que se estendem pelo covo, terminando nos vértices da moldura central do prato - sobre um fundo reticulado, e adornadas com espirais ao centro. O verso do prato está ornado com dezoito reservas com um “S” inscrito, copiando, de forma rudimentar, uma prática utilizada nas peças chinesas desta época.
Modelo característico do período de “Decoração Geométrica” alia a influência ornamental da porcelana chinesa, que chegava aos portos portugueses através do comércio com o oriente, à gramática decorativa islâmica, estabelecida em território luso por via da cerâmica Levantina espanhola e italiana, principalmente de Montelupo e Veneza.
Especifico da linguagem “islamizante” de produção nacional é o preenchimento obsessivo do espaço - horror vacui – com pequenos elementos de pintura solta, mas contida em reservas, muitas vezes assimétricas, de contornos diversos em complexas composições geométricas que preenchem a aba e extravasam para o covo, oprimindo o tema central. Entre elas destacamos as espirais, que se agrupam em cartelas pseudo-geométricas, e que são ornamentos frequentes na cerâmica lusa do final do Quinhentos e princípios do século seguinte.
Para além da cores azul e branca, análogas à porcelana chinesa, a faiança portuguesa deste período integra a gramática decorativa china, que os oleiros lusos mimetizam a seu modo sem perceberem o conteúdo simbólico que lhe está adjacente. Exemplo dessa reprodução é a “cabaça” retratada no fundo deste prato. Esta forma surge com grande profusão no período Jiajing (1521-1567), como atributo de Li Tieguai, um dos oito imortais taoistas. Nela se contêm todos os elixires mágicos que afastam os maus espíritos e a doença, apresentando, assim, uma conotação forte com a longevidade. Para o artífice lisboeta que copia a cabaça, esta tem um carater unicamente decorativo e, chega mais longe, ao envolve-la numa espiral que na origem corresponde às laçarias utilizadas nos objectos preciosos chineses.
Esta atribuição cronológica (1600-1620) aos modelos de “Decoração Geométrica” baseia-se em paralelismos de peças datadas deste período e em achados arqueológicos, identificados, não apenas em Portugal, mas noutros países, nomeadamente nos Países Baixos, ilhas Britânicas e área geográfica da Liga Hanseática. Em vários pontos desta geografia surgiram exemplares de origem portuguesa cujas características, quando confrontadas com outras da mesma época e proveniência, apontam para os mesmos traços específicos de decoração. São exemplos interessantes deste período, as peças exumadas em Deventer e Dordrecht, nos Países Baixos, em contextos datados de 1580-1620 . Em Amesterdão na zona de Waterlooplein foram encontrados alguns exemplares com as cotas de desenterramento entre 1600 e 1620 . Também peças de faiança portuguesa com a mesma decoração foram recolhidas em Carrickfergus, na Irlanda, e ainda um prato exumado em Londres, em St. James Passage Subway, integralmente encontrados, num período de deposição que não ultrapassa o ano de 1620 .
A raridade deste prato está na qualidade da pasta e o vidrado estanífero bem preservado assim com a intensidade da cor azul-cobalto e beleza decorativa, mas também na proveniência inglesa, que revela o quanto a moda da faiança portuguesa ultrapassa fronteiras e épocas.

  • Arte Portuguesa e Europeia
  • Azulejos e Faianças

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.