Ventó Namban

Nº de referência da peça: 
F1184

Cedro do Japão, laca, ouro, madrepérola, pele de raia e cobre dourado
Japão, período Momoyama, (1573-1603)
Dim.: 28,0 x 25,0 x 38,0 cm
Prov.: Coleção particular, Inglaterra

Writing case (ventó)
Black lacquer, wood, gold, mother-of-pearl, ray skin and gilt copper
Japan, Momoyama period (1573-1603)
Dim.: 28,0 x 25,0 x 38,0 cm
Prov.: P.C., England

Rare and important Momoyama, black lacquered Cryptomeria wood, ventó, of gilt (maki-e), mother-of-pearl inlays (raden) and ray skin (same) decoration.
Defined by a door enclosing three inner drawers, this type of writing case is unique amongst Asian furniture types produced for exporting to Europe, as its prototype is of Oriental rather than European origin.
These small furniture pieces designed for storage, became known in Portuguese as ventó, from the Japanese word bento. Nonetheless, according to the first Japanese-Portuguese dictionary, the Vocabulario da lingoa de Iapam, organised and published by Jesuit priests in 1603, the Japanese bento was, and still is, a lunch box. In reality the original model for the ventó is known as kakesuzuri-bako, literally "portable writing box" which, when featuring a main side-door and secure strongbox-type fittings is named dansu, or "ship’s chest with drawers": a case for storing seals (writing instruments) and valuables (coins and money) with a single hinged front door, usually set with complex metal fittings .
The most relevant aspect of the present ventó, and the one that confers it its uniqum character, is the latticed decorative pattern of polished ray skin (same) framing mother-or-pearl inlaid, lacquered and gilt decorative panels. This Japanese production for the European market, known as Namban, dates from the last decades of the 16th to the first decades of the 17th century. The term Namban, from Nanban-jin, literally "Southern Barbarians", referred to the Portuguese and Spanish merchants, missionaries and sailors who arrived in Japan throughout the 16th and 17th centuries. It is also commonly used to define a group of lacquered objects and other Japanese wares, made for either the home market or for export, that combined local techniques, materials and motifs with Western tastes, styles and shapes.
Common in the Momoyama and early Edo periods, the refined gold decoration applied to this writing case, is known as maki-e, literally "sprinkled painting" . It is in this period of mutual acculturation that a special export lacquerware group emerges, combining mother-of-pearl inlays with a type of ornamentation known as hiramaki-e. It was named nanban makie or nanban shitsugei .
While the case front and back panels feature the referred lattice pattern, of almost regular squares set on an inlaid gold-threaded mother-of-pearl (raden) grid and black lacquered ground (urushi), the sides and top surfaces feature a carpet like decorative design of same and raden lattice border, framing delicate black and gilt lacquer panels of foliage, bellflowers - kikyo (Platycodon grandiflorum) and orange trees (Citrus tachibana) compositions, typical of this export production.
In the interior, set with a wide mother-of-pearl inlaid frieze of continuous pearl pattern (shippōtsunagi), it is possible to recognise Japanese arrowroots - kuzu (Pueraria lobata), on the inner door and orange trees and bellflowers on the drawer fronts.
The finely chiselled and engraved peony and chrysanthemum decorated gilt copper fittings, include corner brackets, hinges, lock escutcheon plates and drawer pull rings.
The present ventó belongs to a Namban lacquered furniture group known as samegawa nanban, characterized by the decorative use of ray skin. As early as 1603, in the Vocabulário da Lingoa de Iapam, the term same was defined as ray hide used in the decoration of sword hilts and sheaths. The first written references to this particular type of furniture are found in Dutch East India Company (V.O.C.) facturen - delivery notes – dated to ca. 1635-1645, in which they are highly praised .
This particular raden and same group, decorated either by applying the actual cut ray skin or by sprinkling the calcium denticles on the lacquer surface, is among the rarest and most precious. Notwithstanding some asymmetry in the lattice design, the present writing case is unique as no other identical example has so far been recorded.

Raro e importante caixa Momoyama, em criptoméria lacada a negro (urushi), decorada a ouro (maki-e) com embutidos de madrepérola (raden) e aplicação de pele de raia (same).
O móvel tem gavetas no interior e é caso único nas tipologias de mobiliário produzido na Ásia para o mercado europeu, uma vez que a forma é de origem asiática e não ocidental. É ainda um exemplar singular nesta tipologia, dado o uso de pele de raia na decoração.

Estes pequenos móveis de conter, com esta forma e função, tornaram-se conhecidos em português como ventó, tendo como origem bentó, uma palavra de origem japonesa. No entanto, o termo japonês bentō, de acordo com a definição do primeiro dicionário japonês-português, publicado com o título Vocabulario da lingoa de Iapam em 1603, foi e ainda hoje é utilizado para identificar uma caixa para almoço.

Na verdade, o modelo original japonês para o ventó é kakesuzuri-bako, literalmente "caixa-escritório portátil" que apresenta porta frontal e ferragens como as de um cofre-forte tornando-o inexpugnável a estranhos. É chamado dansu, literalmente "arca de navio com gavetas": caixa para selos (instrumentos de escrita) e valores (moedas, dinheiro) e tem uma única porta frontal articulada por dobradiças, normalmente revestida por ferragens complexas.
O aspecto mais importante do presente ventó, e que lhe confere o carácter unicum, é a sua decoração de padrão reticulado de quadrados de pele de raia polida (same), com painéis centrais de decoração lacada e dourada, enriquecida com embutidos de madrepérola.
Esta produção japonesa para o mercado europeu, conhecida por Namban, é um trabalho do último quartel do século XVI e as primeiras décadas do século XVII. O vocábulo Namban que vem de nanban-jin, literalmente "Bárbaros do Sul", era utilizado para identificar mercadores, missionários e marinheiros portugueses após a sua chegada ao Japão, entre os séculos XVI e XVII, e utiliza-se para designar um grupo de objectos lacados e outros produtos feitos no Japão, para consumo interno ou para exportação, reflectindo um gosto ocidental, muitas vezes modelados sobre protótipos europeus.
Os objetos de estilo Namban, produzidos em exclusivo para exportação, combinam técnicas, materiais e motivos decorativos japoneses com estilos e formas europeias.
A refinada decoração a ouro aplicada a este ventó é conhecida por maki-e, literalmente "pintura polvilhada" e era comum no período Momoyama (1568-1600) e no início do período Edo que se lhe seguiu. É na época Momoyama, de mútua aculturação, que surge um tipo especial de laca para exportação combinando embutidos de madrepérola com um tipo de ornamentação conhecida por hiramaki-e, a que se chama nanban makie ou nanban shitsugei.
A frente e o tardoz apresentam apenas o reticulado com rectângulos mais ou menos regulares de sale entrecortados por esquadria de embutidos de madrepérola (raden), filetada a ouro sobre fundo lacado a negro (urushi) Já as ilhargas e o topo apresentam decoração em tapete, onde temos uma larga cercadura de reticulado de same e raden contrastando com painéis centrais delicadamente lacados a ouro sobre fundo negro. Estes têm composições vegetalistas típicas destes objetos para exportação com campânulas ou kikyo (Platycodon grandiflorum) e laranjeiras tachibana (Citrus tachibana).
Já na decoração dos painéis interiores, com largas cercaduras de embutidos em madrepérola com o característico desenho de pérolas contínuas (shippōtsunagi), reconhece-se o feijoeiro do Japão ou kuzu (Pueraria lobata) - no largo painel do interior da porta frontal – as laranjeiras tachibana - na gaveta inferior, com sua fechadura própria - e campânulas ou kikyo nas duas gavetas superiores.
As ferragens, de cobre dourado são finamente cinzeladas com peónias e crisântemos quer nas cantoneiras, dobradiças e o espelho de fechadura quer nos puxadores das gavetas e no espelho de fechadura do compartimento inferior.
O presente ventó pertence ao mobiliário lacado designado samegawa nanban, grupo específico da manufatura Namban caracterizado pela utilização de pele de raia.
Já em 1603 encontramos o termo same no Vocabulário da Lingoa de Iapam da autoria de missionários jesuítas que residiam no Japão, descrito como pele de raia, e utilizada para a decoração de punhos e bainhas de espada.
As primeiras referências ao mobiliário Namban com pele de raia encontram-se nas facturen (conhecimentos de embarque) de ca. 1635-1645 Da Companhia Holandesa das Índias Orientais ou V.O.C. e são descritos com grandes encómios de admiração.
Este grupo específico decorado a raden - seja com a aplicação da pele de raia inteira, cortada e aplicada, seja através do polvilhado dos dentículos sobre a superfície de laca - se conte entre o mais raro e precioso. A este ultimo grupo, pertence o nosso ventó e, não obstante alguma irregularidade no desenho do reticulado (com variações na quadrícula), não se conhece outro exemplar que sirva como paralelo.

Hugo Miguel Crespo

  • Arte Colonial e Oriental
  • Artes Decorativas
  • Mobiliário
Peças Vendidas

Formulário de contacto - Peças

CAPTCHA
This question is for testing whether or not you are a human visitor and to prevent automated spam submissions.
Image CAPTCHA
Enter the characters shown in the image.