Espada cerimonial (afena, ‘espada’) de origem Asante (Ashanti), do actual Ghana, com espessa lâmina de um gume, tipicamente curvada, em ferro forjado, e ponta arredondada recortada.

O punho, sem guarda de mão, é em forma de haltere, constituído por três elementos torneados em marfim, sendo dois esféricos e um cilíndrico de ligação, todos com decoração estriada torneada, de grande simplicidade, e um pomo cilíndrico em metal.

Tanto a tecnologia de fabrico da lâmina, como o seu material e a forma recortada da ponta, como o marfim do punho, afastam-se dos exemplares de afena conhecidos.

Embora se desconheça quando foram introduzidas espadas no território conhecido hoje por Ghana, é provável que os exemplares mais recuados tenham a sua origem em modelos islâmicos aí chegados via rotas caravaneiras do interior africano.

O seu uso nas sociedades Akan está registado a partir do século XVI, desempenhando a partir daí um importante papel ritual e cerimonial. Existem diferentes tipos de espadas de estado ou cerimoniais, parte integral da regalia de um chefe Asante.

As mais importantes são as keteanofena, passadas de soberano em soberano como parte da regalia, que se dividem em akrafena (“espada da alma”), de uso ritual privado, e bosomfena, de uso público. São usadas em cerimónias de juramento e como sinal distintivo de cargo palatino, régio.

Estas espadas, de uso pela aristocracia Asante, são usualmente em ferro fundido, por vezes com decoração vazada (de grande simbolismo ritual, usando adinkra) sendo o punho em madeira entalhada com padrão geométrico de cariz têxtil, coberto a folha de ouro, elemento essencial das culturas Akan, em particular dos Asante.[1]

Em alternativa, o punho pode ser coberto de pele de leopardo. Podem também reter a bainha (boha) original, feita de pele de tubarão (ou raia) ou antílope, sendo completadas na sua decoração por ornamentos tridimensionais em ouro (abosodee), de forte cunho simbólico.

Um conjunto de sete importantes espadas oitocentistas deste tipo, com origem no palácio real de Kumase (sede de poder do Asantehene, rei-supremo dos Asante), destruído pelas tropas britânicas em 1898, pertence ao British Museum, Londres (inv. Af1900,0427.2 a Af1900,0427.8). A forma curva da lâmina e a sua ponta larga, que não a forma típica de haltere do punho, aproxima a afena Akan das suas congéneres do Benim (dos povos Edo e Yoruba), como a espada cerimonial curva (ada).

Um exemplar seiscentista de afena, surge representado numa pintura de Albert Eckhout (c. 1610-1665), conhecida por Homem Africano (1641), hoje no Nationalmuseet, ou museu nacional da Dinamarca, Copenhaga (inv. EN38A7). De punho e bainha cobertas por pele de raia (etwum), presa no cinto, e com elementos pendentes e decorativos, é em tudo semelhante a uma afena e sua bainha original do mesmo museu (registada desde 1674) e parte da Kunstkammer régia dinamarquesa (inv. ECb7, ECb8).

Hugo Miguel Crespo

Centro de História, Universidade de Lisboa

Bibliografia:

DAM-MIKKELSEN, Bente, Lundbaek, Torben, Etnografiske genstande i Det kongelige danske Kunstkammer 1650- 1800. Ethnographic Objects in the Royal Danish Kunstkammer, 1650-1800, Copenhagen, Nationalmuseet, 1980.

MASSING, Jean Michel, “Albert Eckhout and Frans Post: Imagery of Afro-Americans in 17th-Century Brasil”, in Jay A. Levenson (ed.), Encompassing the Globe. Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries (cat.), Vol. 3, Washington, Smithsonian Institution, 2007, pp. 104-115.

WALKER, Roslyn A. (ed.), The Power of Gold. Asante Royal Regalia from Ghana (cat.), Dallas, Dallas Museum of Art, 2018.

[1] Veja-se Roslyn A. Walker (ed.), The Power of Gold. Asante Royal Regalia from Ghana (cat.), Dallas, Dallas Museum of Art, 2018.