Mesa de Estrado Namban Desdobrável, Japão, período Momoyama, finais do séc. XVI
cedro Japonês, laca, ouro, madrepérola e cobre dourado
36 x 56 x 43 cm
F1220
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Esta pequena mesa rectangular desdobrável, de pequenas dimensões para ser usada num estrado, é construída em madeira lacada de preto (urushi), decorada a ouro (maki-e) e com embutidos de madrepérola (raden). Com pernas de cavalete desdobráveis em forma de arco, ideal para fácil transporte, apresenta ferragens de cobre dourado (kazarikanagu), finamente decoradas com motivos florais sobre fundo puncionado conhecido por “ovas de peixe” (nanakoji). As ferragens incluem cantoneiras muito elaboradas decoradas com peónias lenhosas e com um motivo axadrezado seguindo o padrão de embutidos das cercaduras chanfradas do tampo rectangular, o espelho de fechadura (aimeita) em forma de crisântemo com grandes folhas na gaveta, e os ganchos em forma de crisântemo que prendem os cavaletes ao friso quando a mesa é erguida. A decoração em forma de tapete do tampo consiste numa cercadura larga com o padrão típico de círculos secantes conhecido por shippotsunagi, uma mais estreita com um padrão triangular, sendo o centro dividido em quatro partes por uma grande cruz escalonada de padrão axadrezado. Os quatro medalhões resultantes, radialmente dispostos, são decorados por árvores floridas com pássaros e animais, destacando um par de lebres que aponta, sem surpresa, para o carácter conjugal e feminino deste objecto, utilizado num contexto feminino nos lares ibéricos. As árvores e plantas com flores incluem campânula chinesa ou kikyo (Platycodon grandiflorum), bordo japonês ou momizi (Acer palmatum), camélia japonesa, tsubaki ou wabisuke (Camellia japonica) e laranjeira tachibana (Citrus tachibana). Na gaveta, a frente é decorada com laranjeira tachibana, o tardoz e ilhargas com kuzu (Pueraria lobata) e os cavaletes e travessas, em forma de arco com fragmentos de madrepérola e reservas representando a campânula chinesa nos lados externos e as típicas gavinhas de videira estilizadas Namban no interior. A forma da mesa copia um protótipo ibérico coevo, enquanto o seu pequeno tamanho aponta para a sua utilização como mesa de estrado para uso de mulheres aristocráticas portuguesas que passavam grande parte do seu tempo sentadas em grandes almofadas sobre um estrado coberto de tapetes preciosos e outros têxteis de luxo. Mesas semelhantes, simples ou mais elaboradas e decoradas seriam utilizadas para servir pequenas refeições entre as mulheres da casa ou para expor objectos preciosos e até mesmo para superfície de escrita. As primeiras referências a mesas japonesas provavelmente para exportação encontram-se na lista, de 1616, elaborada pelo padre jesuíta Manuel Bento dos seus pertences, que regista, junto a sete baús lacados, 130 mesas. Naquele mesmo ano, quatro grandes e uma mesa de menor dimensão são listadas nos registos da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Foi sugerido por Oliver Impey e Christiaan J. A. Jörg no seu trabalho seminal sobre Japanese Export Lacquer, que tais mesas seriam usadas pelos padres jesuítas como altares portáteis. Embora plausível, é de referir que estes autores desconheciam a existência deste tipo específico de mesa baixa para estrado e a sua utilização no contexto feminino no Portugal de Quinhentos. Mesas e tampos de mesa coevos produzidos na Ásia destinadas a exportação para o mercado português incluem peças raras de madeira revestidas a madrepérola fabricadas em Guzarate, na Índia; outras em madeira entalhada no Ceilão (actual Sri Lanka), geralmente, mesas desdobráveis assente em cavaletes; e ainda mesas em madeira lacada e dourada no Reino de Pegu e na China. Uma outra mesa Namban com este formato e decoração (sem o motivo quadripartido no topo dividindo o campo central) apresenta pernas rectas de secção rectangular que podem ter sido fixas em período posterior. Foi vendida em leilão na Christie’s Londres, em 20 de Junho de 1994, lote 273. Existem várias imitações posteriores destas raras mesas desdobráveis, provavelmente produzidas na mesma oficina no primeiro quartel do século XIX. O único exemplo que se conhece de uma mesa Namban de dimensões regulares (80 x 125 x 82 cm), e que se desmonta em secções, pertencia à colecção do Castelo de Wilanów na Polónia e está agora no Museu Nacional de Varsóvia (inv. 986 Wil). A refinada decoração a ouro utilizada, conhecida por maki-e, literalmente “imagem salpicada”, é abundante no período Momoyama (1568-1600) e nos inícios do Edo. Durante este período, um tipo de laca destinada à exportação, que combinava embutidos de madrepérola com hiramaki-e, ficou conhecida por nanban makie ou nanban shitsugei. Namban, ou Nanban-jin (literalmente, “Bárbaro do Sul”). É um termo japonês derivado do chinês que se refere aos mercadores, missionários e marinheiros portugueses e espanhóis que aportaram ao Japão nos séculos XVI e XVII. Namban tornou-se igualmente sinónimo do tipo de laca e outros produtos encomendados no Japão para o mercado interno ou para exportação, e que reflectiam o gosto ocidental, copiando protótipos europeus. Objectos de estilo Namban, produzidos exclusivamente para exportação, combinavam geralmente técnicas, materiais e motivos japoneses, com estilos decorativos e formas europeias. Apesar das suas reduzidas dimensões, esta mesa desdobrável, é um testemunho poderoso e único dos encontros culturais e artísticos entre a Ásia e a Europa no início do Período Moderno. É o único exemplar conhecido de uma mesa de estrado produzida para exportação no Japão nos finais do século XVI copiando um protótipo europeu.
Provenance
Drª Teresa Paramés, Lisboa.Exhibitions
A Cidade Global, Lisboa no Renascimento, MNAA, Lisboa 2017 (cat. 160, p.189);Japanese Export Lacquer 1580 - 1850, p. 196;
Portugal, Jesuits and Japan,McMullen Museum of Art, Boston, (cat. n.42)
Publications
IMPEY, Oliver; JÖRG, Cristiaan, Japanese Export Lacquer, Amesterdão: Hotei Publishing, 2005 (p.196, fig. 468);Welsh, J, "After The Barbarians", Lisboa 2003, pp. 78-83
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