Baú Namban ou Nipo-Português , Japão, período Momoyama
madeira, laca, ouro, madrepérola e cobre dourado
46,5 x 70 x 37,5 cm
F1248
Further images
Este baú, em madeira lacada de preto (urushi), é decorado a ouro (maki-e) com embutidos de madrepérola (raden). As suas ferragens (kazarikanagu) de cobre dourado, finamente cinzeladas com motivos florais sobre fundo puncionado conhecido por “ovas de peixe” (nanakoji), incluem o espelho de fechadura (aimeita) com sua lingueta, recortado e decorado por peónias lenhosas ou botan (Paeonia suffruticosa) e cabeças de animal, cantoneiras decoradas com feijoeiro do Japão ou kuzu (Pueraria lobata), com suas folhas características e gavinhas enroladas, dobradiças no tardoz decoradas com flores de cerejeira do Japão ou sakura (Prunus sp.), as gualdras das ilhargas, e as duplas argolas interiores (no tampo e frente) que permitiam manter aberto o baú através de corrente metálica. À semelhança do mobiliário lacado Namban mais recuado, a decoração deste baú consiste em grandes painéis emoldurados por finas cercaduras junto às arestas com friso de gavinhas Namban (karacusa). Na frente vemos um par (macho e fêmea) de faisões do Japão ou kiji (Phasianus versicolor) por entre paulónias ou kiri (Paulownia tomentosa), enquanto no tampo são representados de novo dois pássaros, simbolizando uma união matrimonial, já que muitas destas peças de mobiliário para exportação foram produzidos para esse tipo de contexto, voando por entre flores, incluindo paulónias. Enquanto o tardoz é decorado por trepadeiras do cabaceiro ou hisago (Lagenaria siceraria), as ilhargas são decoradas por árvores floridas, que incluem bordo do Japão ou momizi (Acer palmatum) e trevos do Japão ou hagi (Lespedeza bicolor). Quando levantado, o interior do tampo revela a sua decoração de trepadeiras de cabaceiro, com seus frutos, a ouro, estendendo-se por todo o interior abaulado, em contraste com o restante interior integralmente revestido a laca negra.A refinada decoração a ouro aplicada neste baú, conhecida por maki-e, literalmente “pintura polvilhada”, era comum no período Momoyama (1568-1600) no Japão, e também nos inícios do período Edo que se lhe seguiu. É neste período e contexto de mútua aculturação que surge um tipo especial de laca para exportação combinando embutidos de madrepérola com um tipo de decoração conhecida por hiramaki-e, a que se chama nanban makie ou nanban shitsugei. Namban, ou Nanban-jin (literalmente, “Bárbaro do Sul”) é um termo japonês derivado do chinês que se refere aos mercadores, missionários e marinheiros portugueses e espanhóis que aportaram ao Japão nos séculos XVI e XVII. Namban tornou-se igualmente sinónimo do tipo de laca e outros produtos encomendados no Japão para o mercado interno ou para exportação, e que reflectiam o gosto ocidental, copiando protótipos europeus tal como este baú. Objectos lacados de estilo Namban, produzidos em exclusivo para exportação, combinam técnicas, materiais e motivos decorativos japoneses com estilos e formas europeias, sendo uma das mais correntes a de cofres de tampo abaulado e baús de maiores dimensões, tipologia levada pelos portugueses para o Japão, e aí replicados. A decoração deste tipo de baú é usualmente em painéis, com grandes cercaduras geométricas a separá-los, sendo mais raras as peças de painel único, como a presente. Exemplares semelhantes deste tipo específico encontram-se, por exemplo, no Schloss Fasanerie, Fulda (inv. DAS M91), no Museu Naprstek (Národni Muzeum), Praga (inv. 20611) onde existe um exemplar (37,0 x 70,2 x 46,5 cm) muito semelhante ao presente ou, do Legado Barros e Sá, um exemplar de menores dimensões (29,0 x 43,0 x 25,0 cm) com ferragens de prata no Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa (inv. 98 Cx).
Hugo Miguel CrespoCentro de História, Universidade de Lisboa
Bibliografia:
CANEPA, Teresa, “Namban lacquer for the Portuguese and Spanish missionaries”, Bulletin of Portuguese / Japanese Studies, 18-19, 2009, pp. 253-290.
CANEPA, Teresa, Silk, Porcelain and Lacquer. China and Japan and their Trade with Western Europe and the New World, 1500-1644, Londres, Paul Holberton publishing, 2016.
CURVELO, Alexandra, “Nanban Art: what's past is prologue”, in Victoria Weston (ed.), Portugal, Jesuits and Japan. Spiritual Beliefs and Earthly Goods (cat.), Chestnut Hill, MA, McMullen of Art, 2013, pp. 71-78.
IMPEY, Oliver, JÖRG, Christiaan J. A., Japanese Export Lacquer, 1580-1850, Amesterdão, Hotei Publishing, 2005.
PINTO, Maria Helena Mendes, Lacas Namban em Portugal. Presença portuguesa no Japão, Lisboa, Edições Inapa, 1990.
PINTO, Maria Helena Mendes (ed.), Arte Namban. Os Portugueses no Japão (cat.), Lisboa, Fundação Oriente, Museu Nacional de Arte Antiga, 1990.
Hugo Miguel CrespoCentro de História, Universidade de Lisboa
Bibliografia:
CANEPA, Teresa, “Namban lacquer for the Portuguese and Spanish missionaries”, Bulletin of Portuguese / Japanese Studies, 18-19, 2009, pp. 253-290.
CANEPA, Teresa, Silk, Porcelain and Lacquer. China and Japan and their Trade with Western Europe and the New World, 1500-1644, Londres, Paul Holberton publishing, 2016.
CURVELO, Alexandra, “Nanban Art: what's past is prologue”, in Victoria Weston (ed.), Portugal, Jesuits and Japan. Spiritual Beliefs and Earthly Goods (cat.), Chestnut Hill, MA, McMullen of Art, 2013, pp. 71-78.
IMPEY, Oliver, JÖRG, Christiaan J. A., Japanese Export Lacquer, 1580-1850, Amesterdão, Hotei Publishing, 2005.
PINTO, Maria Helena Mendes, Lacas Namban em Portugal. Presença portuguesa no Japão, Lisboa, Edições Inapa, 1990.
PINTO, Maria Helena Mendes (ed.), Arte Namban. Os Portugueses no Japão (cat.), Lisboa, Fundação Oriente, Museu Nacional de Arte Antiga, 1990.
Join our mailing list
* denotes required fields
We will process the personal data you have supplied in accordance with our privacy policy (available on request). You can unsubscribe or change your preferences at any time by clicking the link in our emails.